PERDIDOS
- Vicky Auricchio Saes
- há 6 dias
- 2 min de leitura

Eu queria um monstro. Eu queria uma tragédia maior que a minha, queria livrar-me do que me continha e queimar minha rédea. Queria deixar de acreditar que estou sonhando. Você riria de mim agora, sorriria desdenhando, comentando afora o quão perdido estou.
Me amortece, não me perde.
Eu queria escrever-lhe um poema. É o que faço quando me desespero. Teria meu ordinário traço vagado sua mente? Não… Você não iria se conter e me faria uma cena, uma peça que já espero. E então, sou seu cenário, derrotado, imprudente, inesperado.
Me machuca, me perco.
Eu queria ser salvo. Mas não quero que seja meu herói. Se tão fácil fosse, por que um mero sorriso doce em minha presença se corrói? Sei o que minha alma almeja, pecadora digna dessa sentença, e, mesmo em vão, frágil e temerosa, se deixa consumir em seu olhar ágil e se entrega a sua maldição.
Aceitamos, nos perdemos.
Eu queria ser mais. Apenas um estímulo ínfimo pra lhe provar do que sou capaz. Mas você já sabe… Reviram-se pequenas mentiras soberbas, gentileza infernal que me provoca. E meu olhar lhe suplica, por favor, me toca! Mal sinto o latejar cômodo enquanto temo seu deixar como se fosse o meu abandono.
Me machuca, não lhe perco.
Eu queria ser forte. Trazer na pele o mapa dessa tragédia como amuleto de sorte, com ousadia assumo meu porte, frágil, e entretenho seu prazer sádico a cargo, estampando um empenho obsoleto. Minha força é não temer a morte. É um ímpeto mal pensado, é aceitar sua mão e compor esse dueto, alucinado, delirante, perturbado.
Machucamos, nos perdemos.
Eu queria… Eu queria não amar esse fardo. Queria estar contigo sem ser sua âncora e não me sentir insolente nesse curso árduo. Não lhe ver como ferido, mas como restaurado, não lhe ver como auge quando está cansado. Não lhe ter como meu quando está perdido… E lhe imploro, mente! Insulta, reclama, me sente! Sua falta grita a minha mente insana, e suplico, até que sua farsa me envolve e seu olhar me engana. Lhe faço responsável, prendendo-nos assim em uma cela instável, eu a você e você ao chão. Meu conter te põe à margem sendo que almeja a imensidão.
Então foge.
Desespero-me e seu instinto me implica… “Deixa”.
Mas é com seu ascender que sinto minha queda.
Fecho os olhos. E penso. Me amortece, não me perde. Me machuca, me perco. Aceitamos, nos perdemos. Me machuco, não lhe perco. Marcamos, nos perdemos.
Desisto… Me perdi.
Autoria: Vicky Auricchio
Revisoras: Ana Carolina Clauss
Imagem: Pinterest
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