Em fevereiro, o Diretório Acadêmico Getúlio Vargas promoveu uma reunião entre os alunos e a Coordenação a fim de esclarecer o reajuste na mensalidade dos cursos de Administração de Empresas e Administração Pública. Nossa repórter Thais Ferrari esteve presente no encontro e relatou tudo o que se passou. Vem ver!
Aumento das mensalidades é tema do encontro entre alunos e coordenação da EAESP
Em 10 de fevereiro, o Diretório Acadêmico da FGV-EAESP promoveu, no Salão Nobre, o encontro de alunos da Escola com a Direção e a Coordenação dos cursos de Administração de Empresas e Administração Pública. O objetivo foi discutir o reajuste de 8,8% aplicado aos cursos, e que elevou o preço das mensalidades para R$5.100,00 mensais.
Muitos alunos entenderam esse reajuste como abusivo e se utilizaram das redes sociais para expressar seu descontentamento e cobrar explicações da liderança da escola. O encontro foi uma oportunidade para que o corpo estudantil reiterasse sua indignação e para que a Escola pudesse expor os motivos que levaram à prática deste aumento.
Estiveram presentes o diretor da EAESP, Luiz Artur Ledur Brito, e o vice-diretor, Tales Andreassi, além de Renato Guimarães Ferreira, coordenador de AE, e Marco Antonio Carvalho Teixeira, coordenador de AP.
O encontro foi aberto pela presidente do DA, Ana Catarina Seron, que reconheceu a volatilidade do tema em pauta e solicitou que os alunos mantivessem a cordialidade durante a discussão. Seron afirmou que o tema despertava forte sentimentos e que era muito importante que o respeito fosse mantido para garantir que eventos similares pudessem ocorrer no futuro.
Além do reajuste das mensalidades, outras questões também foram debatidas na ocasião, como problemas estruturais dos prédios, avaliação dos professores, acesso ao Fundo de Bolsas e, principalmente, a falta de comunicação entre alunos e coordenação.
Fatores que motivaram o aumento
Na primeira parte do evento, a partir de uma apresentação em PowerPoint, os diretores buscaram explicaram os fatores que levaram ao aumento. Brito ressaltou a importância da discussão e disse achar interessante que mais eventos deste tipo ocorram para que outros assuntos e demandas dos alunos possam ser discutidos.
De acordo com o diretor, a porcentagem do reajuste foi calculada com base em duas diretrizes: a correção pela inflação e a necessidade de se angariar verbas extras para investimento em melhorias para o curso.
Brito explicou que os cursos da FGV financiam um aos outros e pontuou que, entre 2015 e 2017, devido à ampliação da receita gerada a partir do grande crescimento da pós-graduação da EAESP, passou a ser possível praticar reajustes menores do que em anos anteriores para a graduação.
Em seguida, foram expostos alguns dos projetos destinados à graduação, nos quais o dinheiro arrecadado seria investido. Os diretores sinalizaram que houve um aumento de custos com a ampliação do número de semanas de imersão disponíveis e a criação de novas vagas e oportunidades para realizar dupla titulação. Além disso, relataram que a faculdade está desenvolvendo o Intent, projeto que busca desenvolver “human skills”, que futuramente serão muito requisitadas no mercado de trabalho.
Destacou-se também que, paralelamente aos projetos diretamente relacionados à graduação, outras iniciativas devem ser pontuadas, como o investimento em pesquisas que ajudam a manter a reputação da FGV. Os diretores salientaram ainda que o doutorado oferecido pela Escola é considerado o melhor do país.
Integrada aos reajustes salariais do corpo docente, também foi abordada a questão da renovação no quadro de professores. De 2015 a 2020, houve a contratação de 61 novos professores, enquanto 72 deixaram a escola.
Tales explicou que a FGV tem a visão de aumentar o número de professores de carreira na escola. Em 2015, 35% das aulas eram ministradas por professores desse tipo; em 2020 este percentual subiu para 41%. Há também o esforço no sentido de contratar professores mais jovens -- a porcentagem dos docentes abaixo de 40 anos subiu de 10% para 21% neste mesmo período. Dentro deste cenário, os diretores apontaram que o processo de demissão de profissionais é significativamente custoso. Ainda foram mencionadas a contratação de professores internacionais de alta qualidade e o investimento em programas voltados ao aprimoramento dos docentes.
Associa-se estas ações à melhora na avaliação dos alunos quanto ao ensino. Em 2015/1, 40,8% das disciplinas tiveram avaliação acima de 4,5 em um máximo de 5. Em 2019/2, foram 57,1%, índice que foi acompanhado por uma queda no número de disciplinas que receberam avaliações com média abaixo de 3. Nesse aspecto, Tales assegurou que todos os professores que tiveram avaliações baixas foram chamados para discutir, pessoalmente, os motivos de tais resultados.
Por fim, foi explicado que alguns gastos, especialmente na questão de infra-estrutura, são financiados pela própria Fundação e não pela mensalidade dos alunos. É o caso, por exemplo, do novo prédio que será construído para a EAESP.
Quanto ao fato de os reajustes das mensalidades não terem sido tão significativos em anos anteriores, isso foi possível porque a pós-graduação e a graduação noturna, que eram cursos novos, aumentaram a receita da escola. Entretanto, como estes cursos agora estão estabilizados, demandando mais despesas, fez-se necessário o aumento mais elevado na mensalidade da graduação.
Em vários momentos do encontro, os diretores salientaram que a FGV é uma fundação, ou seja, uma instituição sem fins lucrativos. Destacaram ainda que a EAESP conta hoje com um pequeno superávit, o que lhe permitiu atingir sustentabilidade financeira, algo que nem todas as escolas da Fundação conseguiram. De acordo com ele, o objetivo é que a escola continue conseguindo se sustentar e tenha dinheiro extra para investir nas melhorias.
O posicionamento dos alunos
Com o fim da fala da direção, os alunos foram convidados a endereçar suas perguntas. Alguns questionamentos haviam sido enviados por meio de um forms disponibilizado previamente pelo DA. Porém, a maioria das questões foi levantada por alunos que estavam no evento.
Um dos principais aspectos levantados pelos estudantes foi que um aumento tão alto afeta o planejamento orçamentário das famílias. A isso, Brito respondeu que entendia que o aumento era significativo, mas relembrou que quando o aluno entra na graduação ele sabe que o valor da mensalidade está sujeito a alterações e complementou dizendo que o valor da FGV ainda estava dentro do mercado, especialmente considerando-se a qualidade da escola. Ainda além, relembrou também a existência do fundo de bolsas que deveria ajudar os alunos com questões financeiras”.
Sobre a sugestão dos estudantes de a Escola apresentar uma previsão das correções a serem aplicadas no decorrer do curso para que pudessem se preparar financeiramente e não serem surpreendidos, Brito afirmou que esta seria uma boa medida e que a Direção poderá avaliar a possibilidade da sua implementação.
Considerando que os projetos apresentados pela Direção, com previsão de conclusão a longo prazo, não beneficiarão diretamente os alunos atuais, os estudantes presentes revelaram esperar ações imediatas da FGV, especialmente com relação a problemas básicos de infraestrutura e manutenção, que acabam por afetar o bom andamento de diversas disciplinas e do curso como um todo. Citou-se, por exemplo, erros recorrentes nos processos de matrículas, falta de acomodações adequadas no DA, além de problemas com a rede elétrica e com os computadores.
Os diretores admitiram a existência dos problemas apontados, mas acreditam que com o prédio novo, que deve ficar pronto no prazo de dois anos, boa parte desses problemas estariam solucionados. De qualquer forma, os diretores concordam que é possível minimizar alguns dos problemas apontados a partir de ações mais imediatas.
Transparência e mais participação dos alunos
O encontro foi bastante produtivo, especialmente porque viabilizou a discussão de uma questão considerada essencial pelos alunos: a deficiência na comunicação entre a Coordenação e os estudantes, que reclamam da falta de transparência e de restrições à participação do alunato em decisões importantes.
De acordo com os alunos, a falta de comunicação tem impedido o endereçamento de demandas consideradas graves, como os casos de uma disciplina na qual grande parte das aulas era dada por monitores e o de um professor que aumentava arbitrariamente a nota dos alunos para aumentar a média da sua turma.
Os diretores reconheceram que a comunicação é um desafio enorme e que existem falhas a serem sanadas, mas que esta é uma via de duas mãos. Foi relembrado que o Plano Estratégico da FGV está disponível no site da Faculdade e também da existência do SAP (Seminário Anual de Planejamento). Criticou-se que poucos participam deste processo ou se informam quanto ao que foi decidido, mas reconheceu-se que a baixa adesão também é consequência da falha na comunicação.
Ainda com relação a esta baixa participação dos alunos, Renato Guimarães Ferreira, coordenador de AE, relatou que em encontros com representantes dos alunos, muitos não comparecem, o que dificulta uma maior interação. A presidente do DA, Ana Catarina Seron, também expôs que muito poucos alunos vão às assembleias organizadas pelo DA e aproveitou a ocasião para ressaltar que a presença dos graduandos é muito importante e necessária, uma vez que as pautas discutidas nessas assembleias sempre são levadas à Coordenação.
Outro ponto debatido foi a avaliação semestral dos professores, que, na percepção de muitos alunos, não é encarada com seriedade pela Coordenação. Alguns relataram que sequer preenchem os campos qualitativos do documento, nos quais pode-se escrever comentários sobre uma disciplina ou professor específico, justamente porque acreditam que os comentários sequer serão lidos.
Os representantes da Direção asseguraram que esta é uma ferramenta extremamente importante para a FGV, que todas as avaliações são lidas com extremo critério e que, por isso, é fundamental que os alunos a preencham com cuidado. Sempre que necessário, os envolvidos/responsáveis são chamados para conversar diretamente com o vice-diretor.
Com relação ao Fundo de Bolsas, Brito afirmou que a falta de dinheiro não deveria ser empecilho para se estudar na FGV e que a expectativa é que mais alunos utilizem este benefício. O diretor afirmou, inclusive, que o Fundo poderia ser ampliado, lembrando que os valores são passíveis de negociação caso o aluno não consiga quitá-los no futuro. Os alunos, entretanto, se manifestaram contra a burocracia e a grande morosidade em se obter uma resposta às solicitações encaminhadas ao Fundo.
Outra questão que foi levantada referia-se a uma preocupação com a saúde mental dos alunos. A isso foi explicado que já existe um projeto em andamento para que seja realizado o mapeamento psicológico e mental dos estudantes, a fim de que a FGV possa dar um suporte mais efetivo aos seus alunos.
Denúncia de corrupção no Rio
A recente denúncia de envolvimento de um órgão da FGV-Rio na Operação Lava-Jato também foi abordada durante o encontro. Mediante o questionamento dos alunos, os diretores explicaram que não há qualquer relação desta ocorrência com a Faculdade de São Paulo ou com o aumento da mensalidade. Também garantiram que nada foi comprovado e que a Fundação já havia dado explicações quanto às denúncias, mantendo sua idoneidade. O diretor destacou, inclusive, que a imagem da FGV no exterior continua excelente.
Oportunidades de melhoria
Por mais que críticas tenham sido feitas é importante destacar, inclusive, que os estudantes reconheceram a existência de muitos pontos positivos na EAESP, entretanto, consideram fundamental que a Direção observe as oportunidades de melhorias que lhes foram apontadas.
A expectativa agora é que outros encontros dentro deste modelo sejam promovidos.
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