
Mataram o romantismo
Aqui, bem na minha frente,
Na principal avenida de São Paulo.
Jogaram as pétalas pelo chão
E muitos vieram atrás para recolher.
Como alguém
Que deu um grande amor
Simbolizado por um buquê.
E a amada?
o desprezou.
Jogou as flores pela Augusta,
Uma pétala em cada bar.
Cada pedaço despedaçado
A boêmia teve que juntar.
E eu nem digo que o assassinato
É crime de quem o amor recusar.
Mas, depois de ficar em pedaços,
São Paulo inteira fez questão de pisar.
E, assim, mataram o amor
Por pensarem que cada pétala
Era sinônimo de amar.
Pegaram a parte pelo todo.
Não que tenha erro
Ver romantismo em linguagem subjetiva,
Mas amor é metáfora, não metonímia.
No máximo, dá para sentir sinestesia.
É que São Paulo vê eufemismos nas hipérboles,
O exagero só existe nas baladas.
A capital só vê romance na madrugada,
E o capital não vê amor em nada.
Mataram o romantismo
E eu lavo minhas mãos.
Minha função, enquanto última romântica,
É assinar esse falso termo de homologação.
Autoria: Ana Cristina R. Henrique
Revisão: Anna Cecília Serrano, Gabriela Veit e Enrico Recco
Imagem de capa: Adaptação de Misc Broken Bouquet - PentaxForums.com
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