No dia 5 de março, Fernando Haddad, ex-candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores e atual professor da USP e do Insper, visitou a FGV em prol de um evento aberto promovido pela EPEP, em que palestrou sobre o passado, o presente e o futuro do país e do PT como oposição. Nosso redator Bruno Daré participou do evento e relatou os assuntos tratados na palestra. Vem ver
Dia 5 de março, Fernando Haddad, a convite da Estudos de Política em Pauta (EPEP), visitou a Fundação para debater o papel do Partido dos Trabalhadores como oposição. O Salão Nobre da EAESP foi preenchido por rostos de todos os cursos - e ninguém passou vontade, o ex-prefeito de São Paulo percorreu por temas que se comunicam com todos os prédios da FGV.
Além do petista, a mesa foi também composta por duas integrantes da EPEP, que mediaram a conversa e apuraram perguntas da plateia, e pelo professor da EDESP, Thiago de Souza Amparo, especialista em direito constitucional, políticas públicas e empresariais de diversidade e antidiscriminação.
Thiago introduziu a palestra com uma experiência pessoal: comentou que, quando viveu na Hungria, percebeu de perto qual o papel da democracia e da população, e que processos de deterioração da democracia não precisam ser súbitos - podem ser lentos. Argumentou que vivemos uma espécie de “crise da verdade”, na qual conclusões tidas como sólidas são desacreditadas, citando o movimento antivacina e as mudanças climáticas. Pincelou também algumas críticas e elogios ao Partido dos Trabalhadores, referentes à falta de renovação do partido, e a consolidação das cotas raciais durante os governos petistas.
Uma reflexão que o professor deixou na sua fala foi o desafio de renovar a confiança na democracia.
Fernando Haddad, nos primeiros minutos de sua fala, diz “saímos de uma ditadura na qual o bipartidarismo era lei”, expondo que o maniqueísmo político brasileiro é também sequela da ditadura. Conta que nas eleições de 2018 “as coisas estavam armadas para que não entrássemos em campo”, e que o Lula não acreditou que seria preso. Ainda na sua analogia futebolística, diz que em 2014 o PT “ganhou mas não levou”, e defende que a jurisprudência foi mudada para prender Lula em segunda instância, antes das eleições.
Depois de ter contado, sob a sua perspectiva, o que o Brasil viveu nas últimas décadas, Haddad passou a expressar seus julgamentos sobre o presente e o futuro do país. Caracterizou o último ano como um desmoronamento institucional carente de uma liderança para conduzir o governo: “botamos o país nas mãos de um aventureiro”. Falando ainda do despreparo e falta de coordenação do governo, num tom bem-humorado, disse que Bolsonaro não tinha como dar certo, que o governo “nasceu errado”. Arrancou sorrisos da platéia nas suas brincadeiras - até o Freixo, que estava com o palestrante naquele dia e assistiu a conversa da plateia, deixou escapar risadas. Não parecia o candidato de 2018 que foi acusado de não ter carisma.
Ainda sobre os resultados da última eleição à presidência, o petista diz que “a maior vítima foi a centro-direita”, dizendo que neste momento estaria disposto a criar condições para se aliar com a centro-direita, acredita que concessões e alianças são parte da democracia e perfeitamente legítimas, e complementa “converso com todo mundo”. Também comentou que Bolsonaro nunca foi liberal e parte da direita se sente deslocada.
Deu opiniões e palpites sobre as eleições dos Estados Unidos, acreditando que o Biden tenha mais chances de ganhar por ser um candidato que combina mais com o establishment, mas que também veria Sanders ganhando. Sobre Bernie, comentou que não acha que Sanders seja radical, sobre as propostas de saúde e de taxação do candidato americano, comentou “ele quer propor um SUS”, e brincou “parte dos 99% toma as dores do 1%”.
Respondendo umas das perguntas, Haddad diz que Bolsonaro está dando dinheiro para as emissoras que o apoiam, e cortando verbas das que o criticam. Ainda sobre o tema, diz que a regulamentação da mídia que defende é econômica, não de conteúdo - complementa dizendo que regulamentação de conteúdo é outro nome para censura, e o que propõe é uma desconcentração da imprensa, comentando “regulação da mídia é um princípio liberal”. Nos minutos finais, Fernando conta um pouco de sua trajetória como professor, e da importância de ensinar aos alunos aquilo que eles não concordam, e da relevância de ouvir o contrário: “se você for com a cartilha do mao-tse-tung, você vai fazer um estrago”.
Foto de capa: Gabriela Cavagnoli
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