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COMENTÁRIO SOBRE O TEMPO


Que deliciosa contradição é o tempo. 

Uma viagem rápida ou vagarosa dentro de carros, sobre pés e charretes. 

Passeando por caminhos feitos de asfalto, pele e sangue. 


O querido relógio andou remexendo o peito dos jovens e dos velhos, criando uma espécie de anedota com a palavra sabedoria. 

Se meu peito bate no lado leste do céu, felizmente, nasci no lado oeste. 


Sem nada de importante carregar, apenas uma mochila cheia de dores e mágoas. 

A solidão do caminho percorrido é um parente a me pentelhar dia e noite. 

Um pequeno mapa do tempo me mostra que estar distante de um lugar que nunca fora meu é um apelo para não olhar para trás. 


Não há como sentir falta dos buracos na parede, 

nem mesmo das lágrimas solitárias derramadas. 

O charme da dor juvenil se esvai como a fumaça do teu cigarro. Em contraponto, vejo seu olhar cansado, uma mente a titubear e passos vagarosos em direção a cozinha. 

O medo da solidão é provavelmente sua maior doença. 


Diga-me, após tantos anos, mesmo com tantos desenganos, 

não há no mundo quem baixa essa guarda? Que faça reconhecer o erro 

e por um momento sequer, admitir que nem tudo foi pelo bem alheio? 


A vida gosta de mascar pessoas como chiclete, sem nunca engolir, apenas deglutindo suas dores, seus encantos e seus defeitos. 

E ao chegar no fim do sabor, toma um copo d’água gelada, 

para ver se ainda tira do corpo cansado uma dose amarga, 

a fim de travar a mandíbula e cuspir no lixo algo que um dia já foi prazer.


Autoria: Pâmela Jerônimo

Revisão: Artur Santilli

Imagem da capa: Pâmela Jerônimo


1 comentário


Felipe Alves
Felipe Alves
03 de ago.

Muito forte, muito muito bom.

Genuinamente uma ótima escrita

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