COMENTÁRIO SOBRE O TEMPO
- Espaço Aberto
- 3 de ago.
- 1 min de leitura
Que deliciosa contradição é o tempo.
Uma viagem rápida ou vagarosa dentro de carros, sobre pés e charretes.
Passeando por caminhos feitos de asfalto, pele e sangue.
O querido relógio andou remexendo o peito dos jovens e dos velhos, criando uma espécie de anedota com a palavra sabedoria.
Se meu peito bate no lado leste do céu, felizmente, nasci no lado oeste.
Sem nada de importante carregar, apenas uma mochila cheia de dores e mágoas.
A solidão do caminho percorrido é um parente a me pentelhar dia e noite.
Um pequeno mapa do tempo me mostra que estar distante de um lugar que nunca fora meu é um apelo para não olhar para trás.
Não há como sentir falta dos buracos na parede,
nem mesmo das lágrimas solitárias derramadas.
O charme da dor juvenil se esvai como a fumaça do teu cigarro. Em contraponto, vejo seu olhar cansado, uma mente a titubear e passos vagarosos em direção a cozinha.
O medo da solidão é provavelmente sua maior doença.
Diga-me, após tantos anos, mesmo com tantos desenganos,
não há no mundo quem baixa essa guarda? Que faça reconhecer o erro
e por um momento sequer, admitir que nem tudo foi pelo bem alheio?
A vida gosta de mascar pessoas como chiclete, sem nunca engolir, apenas deglutindo suas dores, seus encantos e seus defeitos.
E ao chegar no fim do sabor, toma um copo d’água gelada,
para ver se ainda tira do corpo cansado uma dose amarga,
a fim de travar a mandíbula e cuspir no lixo algo que um dia já foi prazer.
Autoria: Pâmela Jerônimo
Revisão: Artur Santilli
Imagem da capa: Pâmela Jerônimo
Muito forte, muito muito bom.
Genuinamente uma ótima escrita