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QUADRA CHUVOSA



Ando chorosa.

Sinto que vou desabar em um vendaval de lágrimas 

qualquer noite dessas.

Cair em gotas d’água salgada no cume da serra,

no meio do mar, 

no asfalto quente, 

na folha do cajueiro.

Acho que consigo lavar o mundo inteiro.


Sinto o vento e as nuvens se formarem

e o céu ficar bonito de chuva.

Maldito tempo frio.


Por sorte,

o vento leva tudo embora,

mas fico aqui engasgada

com um monte d’água no peito.


Viro água com facilidade.

Viro água com tristeza

e com alegria também, 

me sinto rio quando estou assim.

Me sinto miúda, 

muda e 

transparente. 

Não me sinto eu, mas eu sinto o tempo.


Autoria: Pâmela Jerônimo

Revisão: André Rhinow e Laura Freitas

Imagem: Ofélia, de Friedrich Wilhelm (1900)


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