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DA AUTENCIDADE AO REFÚGIO: COMO A MODA SE REIVENTA ENTRE A GEN Z E A GEN ALFA

Nos últimos anos, as marcas de moda aprenderam a se reinventar diante da Geração Z. Essa geração, marcada pela fluidez cultural, pelo poder das redes sociais e pela busca por autenticidade, forçou as maisons a abandonarem antigas hierarquias e se aproximarem de narrativas mais inclusivas, acessíveis e pop. Mas enquanto o mercado ainda celebra esse acerto, uma nova leva de consumidores já começa a ocupar o radar das grifes: a Geração Alfa.


A Gen Z, nascida entre 1997 e 2012, transformou completamente o conceito de luxo. O que antes era definido por exclusividade e distância, hoje se equilibra com colaborações acessíveis, marketing culturalmente relevante e narrativas de comunidade. Um dos melhores exemplos vem da Coach, que se reposicionou como a “primeira bolsa” de muitos jovens. A estratégia combina preços de entrada, como a Brooklyn bag a US$225, com ativações em séries populares como “The Summer I Turned Pretty" e parcerias esportivas como a WNBA. O resultado é uma marca que dialoga com o desejo de pertencimento sem parecer oportunista. Outro caso emblemático é a Miu Miu, que transformou micro-saias, ballet flats e códigos dos anos 2000 em símbolos contemporâneos de desejo. Sua estética viral se conecta ao universo da auto expressão digital, onde cada peça pode se tornar um meme fashion. Jacquemus também captou esse zeitgeist, criando desfiles em campos de lavanda e bolsas em miniatura que ultrapassam o produto para virar narrativa viral. Resumidamente, a Gen Z enxerga a moda não como consumo isolado, mas como linguagem cultural e ferramenta de identidade. Marcas que aceitaram o humor, a imperfeição e a co-criação prosperaram.


Se a Gen Z é marcada por irreverência e identificação, a Gen Alpha (2010–2025) é ainda mais complexa. Trata-se da primeira geração 100% digital, nascida sob superexposição às telas e vivendo um amadurecimento precoce. A ansiedade e a antecipação da puberdade  sobretudo em meninas, segundo a WGSN, autoridade global em tendências de consumo e design moldam consumidores que amadurecem cedo, mas ainda demandam proteção emocional. Aqui, o luxo não pode ser apenas um objeto de status: precisa ser um espaço de cuidado e imaginação. A campanha “Diorling” da Dior, que apresentou crianças de volta às aulas em arquétipos como “o atrasado” ou “a favorita da professora”, é exemplar nesse sentido. A maison ofereceu mais que roupas: entregou uma narrativa que aborda dilemas reais de identidade e ansiedade infantil. A Gucci também ensaia esse movimento em colaborações lúdicas inspiradas em mascotes e universos infantis. Embora voltadas aos pais consumidores, essas campanhas plantam no imaginário da Alfa uma visão aspiracional desde cedo. No streetwear, Nike e Adidas ampliam linhas infantis conectadas à estética digital, transformando o mini-eu em estratégia para fidelizar futuros adultos consumidores.


Projeções indicam que até 2030 a Geração Alpha movimentará US$1,3 trilhão em wellness. Isso reforça que sua busca não será apenas por estilo, mas por experiências ligadas a bem-estar, segurança e pertencimento. E aqui mora a diferença entre as duas gerações: enquanto a Z exige autenticidade e humor, a Alfa pedirá cuidado e profundidade. Ambas compartilham o desejo por diálogo real, mas em estágios diferentes: a Z desafia as marcas a não serem falsas; a Alfa exigirá que sejam parceiras de vida.


Esse movimento indica que o futuro do luxo não está em campanhas isoladas, mas na criação de ecossistemas narrativos multigeracionais. O desafio será construir produtos e experiências capazes de dialogar com diferentes idades sem perder coerência, algo que Coach, Dior, Miu Miu, Jacquemus, Nike e tantas outras já vêm experimentando. Se conquistar a Gen Z significou legitimar identidades e abrir espaço para humor e autoexpressão, atrair a Gen Alfa demandará construir refúgios emocionais, educativos e seguros.


No fim, o jogo não será apenas vender roupas, mas antecipar desejos, cuidar de fragilidades e transformar consumo em experiência de vida. Antes mesmo de saber ler, a nova geração já sabe deslizar a tela. O próximo passo das marcas será ensinar a essa geração não apenas como se vestir, mas como encontrar na moda um espaço de confiança, imaginação e pertencimento.


E talvez aqui esteja a virada mais interessante: se a Geração Z transformou a moda em palco de autoexpressão coletiva, a Geração Alfa pode ser responsável por transformá-la em um refúgio emocional num mundo cada vez mais acelerado. A questão não é mais se as marcas vão se adaptar, mas quem terá coragem de criar narrativas suficientemente profundas para acompanhar uma geração que nunca conheceu o “offline”.


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