SINERGIA ENTRE PREÇO E EXPERIÊNCIA: COMO O LUXO ESTÁ EVOLUINDO
- Rafaella Butori
- há 9 minutos
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Já é sabido que o mercado de luxo é o que mais passa por uma verdadeira revolução dentre todos os setores da moda. Se antes as marcas se seguravam na ideia de que um produto sofisticado era tudo o que precisavam, agora a história mudou. Hoje, o que manda é criar experiências memoráveis para conquistar de vez a nova geração de consumidores. E isso está acontecendo de um jeito cada vez mais criativo.
Primeiro, é importante falarmos sobre o desfile da Chanel. Matthieu Blazy, diretor criativo da marca, comandou uma apresentação dentro de uma estação de metrô em Nova York recentemente. O novo designer da marca decidiu dar uma virada total ao ambiente tradicional de desfiles, trazendo o glamour para um cenário cotidiano. Quem diria que uma estação de metrô poderia ser o palco de tanta elegância? A ideia era criar uma conexão com a cidade e a sua cultura, mostrando que a moda pode ser acessível e autêntica, adentrando-se no cotidiano popular. Jacquemus fez da mesma forma: criou uma campanha de divulgação de bolsas com vídeos que mostravam mulheres atrasadas, no banheiro, jogando a bolsa pela casa e tratando as peças como, de fato, tratamos em casa.
Mas por que isso é tão relevante? O público atual ficou mais exigente quando se trata de como e onde gastar dinheiro. Ninguém quer só comprar um produto caro; querem histórias, momentos, conexões. E é aí que entra essa nova onda de inserir histórias das marcas no cotidiano. A moda e o consumo perceberam a necessidade de seus consumidores enxergarem esses produtos no dia a dia e em suas experiências reais.
Dentro dessa virada, coloca-se em pauta um assunto que é quase tabu: preços no mercado de luxo. A realidade é que as marcas estão enfrentando um verdadeiro dilema entre manter suas etiquetas de preço lá em cima e, ao mesmo tempo, repensar o que isso significa para os consumidores. Não está fácil lidar com a inflação e consumidores mais conscientes, muitas marcas estão percebendo que precisam alinhar o que oferecem ao que realmente vale a pena. Cria-se aqui um grande dilema entre aproximar o público e não deixar os preços caírem, precisando encontrar a linha tênue entre identificação e desejo, sem perder o caráter aspiracional.
Junto com isso, a questão da precificação no mercado de luxo está mudando, e aqui vão algumas sacadas. Primeiro, as marcas estão reavaliando a percepção de valor. Hoje, os consumidores são mais críticos e querem entender o que justifica o alto preço. É sobre qualidade, durabilidade e até sustentabilidade. Se uma peça custa caro, ela precisa entregar mais do que apenas status.
Além disso, estamos vendo uma segmentação e diversificação de produtos. Marcas como a Chanel estão começando a oferecer linhas mais acessíveis, permitindo que novos consumidores experimentem a marca sem precisar gastar uma fortuna. Isso é uma jogada inteligente, pois torna a marca mais inclusiva, sem perder o toque de luxo.
Outro ponto que as marcas estão adotando é transformar a compra em uma experiência. Ao invés de vender apenas produtos, elas criam momentos incríveis que fazem o consumidor sentir que o investimento vale a pena. É aqui que entra a magia do marketing de experiência. Associar suas criações a vivências únicas, como o desfile no metrô, ajuda a criar laços emocionais e, principalmente, fazer com que os consumidores se vejam, de fato, usando os produtos no dia a dia.
E, claro, a transparência e as práticas sustentáveis estão em alta. Os consumidores, especialmente as gerações mais novas, exigem saber de onde vem o que compram. Marcas que se comprometem com práticas éticas e sustentáveis não apenas ganham a confiança do consumidor, mas também encontram um novo argumento para justificar o preço.
Por último, temos que lembrar que o cenário global influencia bastante o desempenho das marcas de luxo. As vendas de itens de podem variar muito entre regiões, refletindo diferenças culturais, econômicas e comportamentais. Por exemplo, enquanto consumidores na Europa e América do Norte podem estar mais preocupados com questões de sustentabilidade e ética, mercados emergentes na Ásia, como a China, apresentam uma demanda voraz por produtos que simbolizam status e prestígio. Essa diversidade nas preferências dos consumidores torna crucial que as marcas se adaptem rapidamente às demandas de cada mercado.
Além disso, fatores econômicos, como taxas de câmbio e políticas comerciais, também desempenham um papel significativo. Em tempos de incerteza econômica ou guerras comerciais, os consumidores podem optar por adiar compras de luxo ou buscar alternativas mais acessíveis, obrigando marcas a reconsiderar suas estratégias de precificação e distribuição. Por isso, a flexibilidade se torna uma característica vital.
Marcas que são ágeis e que conseguem ler as tendências do mercado local, ajustando suas ofertas e campanhas de marketing, têm mais chances de se destacar. Isso pode incluir desde a personalização de produtos que ressoam com a cultura local, até a criação de lojas conceito que oferecem experiências únicas que atraem o público-alvo específico de cada região. Ao fazer isso, as marcas não apenas ampliam seu alcance, mas também estabelecem uma relação mais profunda e significativa com os consumidores, fortalecendo sua posição no competitivo mercado global de luxo.
Então, no final das contas, o que realmente importa? O luxo de hoje vai muito além do preço. É sobre histórias, experiências e aquele toque especial que faz a gente se sentir único. Se as marcas conseguirem equilibrar essa nova abordagem de experiências imersivas com uma reavaliação inteligente de suas estratégias de precificação, elas deixarão de ser apenas grifes e se transformarão em verdadeiras celebrações da moda. E quem não quer fazer parte disso? Afinal, no fundo, todos nós queremos sentir que, quando investimos em algo, não estamos apenas comprando, mas vivendo e nos conectando de verdade.
Autoria: Rafaella Butori
Revisão: Pedro Anelli
Imagem da capa: Cortesia Chanel / Forbes







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