
Em uma sexta-feira de sol e calor, alunos da EAESP saíram de suas casas em direção à faculdade. Chegando lá, repetiram uma rotina conhecida: carteirinha na catraca, talvez um espresso no Rockafé, escadas ou elevador abarrotado até a sala de aula, cabeça já no final de semana. Shokitos pra quem é de Shokitos, padoca pra quem é de padoca, descanso pra quem é de descanso.
Naquele 13 de março de 2020, acabava a última semana do verão. Acabavam, também, as aulas presenciais, na FGV e em universidades e escolas de todo o Brasil, em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Seriam, a partir dali, cerca de dezenove meses de um regime de ensino remoto para toda a faculdade.
Durante este período, pode-se dizer que a “rotina-FGV” mudou completamente. Durante as primeiras semanas, existia um clima de novidade e esperança por uma rápida passagem por tudo aquilo. Mas na medida em que a ideia de um período curto em casa foi acabando, manter o ânimo nas aulas tornou-se um desafio.
“Três pessoas, em trabalho em grupo no Zoom, e ninguém abre a câmera. Eu até abro [...], mas parece que o negócio não rende. Eles abrem e falam assim, ‘também’ e desligam”, conta A.M. , aluna do curso de Administração de Empresas.
“A didática dos professores ajuda muito, não é aquela coisa monótona [...] mas a integração com a sala é a parte mais difícil“ , afirma I.B., do mesmo curso.
Ambas as estudantes ingressaram na faculdade durante a pandemia e ainda não tiveram aulas presenciais. Os professores da FGV passaram por um treinamento para a utilização de plataformas e ferramentas para o ensino on-line.
Na última quinta (8), 544 dias após aquela sexta-feira, alunos do curso de Administração Pública se dirigem à EAESP para a primeira aula híbrida da classe, a T13, em quase dois anos de graduação.
Eles fazem parte do grupo estudantes que se mostrou disponível para ir presencialmente à faculdade e participar de um regime de aulas em que alguns alunos e o professor se encontram nas dependências da faculdade, enquanto o resto da classe permanece em casa, conectados via um conjunto de microfones e monitores de alta tecnologia instalados na sala de aula.
Todos na FGV utilizam máscara e seguem, à comando da faculdade, rígidos protocolos de segurança:
“É impressionante o cuidado [da FGV] com a gente, não vi outras faculdades fazendo isso. [...] Já vi stories de outras universidades em que alunos e professores ficam sem máscara na sala.", relata J.E., aluno da T13.
Segundo J.E., a entrada na faculdade conta com diversas fases: uma triagem on-line, na qual o aluno informa seu estado de saúde; uma checagem de temperatura e distribuição de álcool em gel na portaria, onde funcionários têm uma lista controlando quais são os alunos autorizados a entrar; reforço constante de orientações sanitárias e áreas comuns arejadas liberadas.
Colegas de J.E. complementam que a sensação foi de um novo primeiro dia de aula, misturando as saudades com frio na barriga:
“A verdade é que ver a professora ao vivo e ainda assim continuar vidrado no computador mostrou que vamos ter o dobro de dificuldade de se concentrar. [...] Confesso que fiquei com medo até de engasgar e tossir. Fiquei pensando "se eu tossir, alguém vai chegar em casa e falar que eu passei covid".”, confessa C.B.
A Coordenação da EAESP, procurada por esta reportagem, não concedeu mais detalhes sobre os próximos passos da faculdade até o fechamento da redação. Entretanto, um e-mail foi encaminhado aos alunos no começo do semestre informando que a faculdade pretendia aderir ao modelo híbrido de aulas na medida em que a situação da pandemia se amenizasse, priorizando os alunos que não tiveram nenhum ou menos tempo na rotina presencial até o momento.
Autoria: Laura Intrieri
Revisão: Letícia Fagundes
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