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Do caos ao extremo


Em meio à um ambiente de incertezas e instabilidade, nossa redatora Isabella Grimaldi nos traz um artigo sobre como o caos e a desordem levam à ascensão de discursos extremistas.



A história já notou que a ascensão de discursos políticos, culturais e religiosos radicais está, quase sempre, vinculada a um cenário sociopolítico caótico e instável. Conflitos de interesse, desavenças entre grupos de oposição, disputas pelo poder político, guerrilhas de cunho religioso, vácuo político e ausência de um governo fortalecido são algumas das milhares de causas para a consolidação de uma conjuntura conturbada e vulnerável.

Quando o caos instala-se, mesmo que paulatinamente, a sociedade é tomada por um sentimento de desespero. Os grupos sentem-se perdidos e sem apoio; sentem que seus direitos estão em risco e que seus privilégios foram para o fim do túnel. Essa sensação de insegurança acaba sendo responsável pela excitação do ódio ao governo, visto que a sociedade enxerga-o como o grande culpado do quadro de instabilidade instaurado. Não é de hoje que a apatia política assola o corpo social, mas quando a dinâmica sociopolítica e/ou cultural é conflituosa, a apatia brilha aos olhos de muitos, aparentando ser a melhor solução. De fato, não se pode culpar aqueles que desistem da política e de seus personagens, considerando tamanha corrupção e sobreposição de interesses que ela envolve. Mas, uma sociedade sem vontade de manifestar opiniões e críticas aos atos sociopolíticos; uma sociedade sem interesse de lutar pelos seus direitos, é uma sociedade problemática. Uma sociedade doente, isto é, em estado de anomia. E, assim, uma coletividade sem regras claras, sem valores, sem interesses e sem instigação leva o ser humano ao desespero.

O desespero é o cenário mais favorável para a ascensão de discursos políticos radicais e extremistas. As pessoas estão desamparadas e encontram em tais discursos a resposta mais rápida e simples para o fim de todo aquele caos. Essa é uma das principais características dos discursos radicais: a exaltação de soluções insensatamente simples para uma conjuntura problemática e extremamente complexa, o que revela, pela incoerência entre o remédio e o tamanho da “doença”, a ausência de embasamento das supostas soluções. No entanto, o conteúdo das propostas não importa factualmente, visto que o objetivo de tais discursos é única e exclusivamente o de manipular a mente das pessoas em situações de vulnerabilidade e completa descrença nas instituições políticas.

Todo esse trâmite já aconteceu incontáveis vezes na história e continuará acontecendo enquanto o ser humano for humano e ainda precisar de instituições e/ou crenças para se sentir seguro de suas convicções. A escalada ao poder de Hitler na Alemanha do século XX em uma conjuntura de vácuo político reiterou o quão frágil a consciência coletiva e os valores se tornam quando a população está ameaçada, a ponto de ser manipulada pelo homem que assassinou cerca de 6 milhões de judeus, justificando seus atos com teorias bizarros e sem nenhum fundamento concreto por trás.

A rápida ascensão do temido Estado Islâmico é mais uma evidência da influência direta do caos fortalecendo ideais fundamentalistas. Após a queda do regime ditatorial de Saddam Hussein no Iraque, em 2003, instalou-se no país um embate - histórico - entre sunitas e xiitas pela disputa do poder político, criando o que hoje é conhecido como uma das piores associações terroristas do mundo, responsável por iniciar uma guerra infinita nos países do Oriente Médio, dando o empurrão necessário para a maximização da crise de refugiados.

Não obstante, a eleição do candidato Jair Bolsonaro no ano de 2018 também é uma evidência de como o caos leva ao extremo. Diante de uma crise de legitimidade do governo petista, o candidato conseguiu manipular e vencer a população apresentando um discurso racista, machista, homofóbico, além de marcado por uma extrema ausência de conhecimento nas áreas mais relevantes de um governo.

Assim, fica claro que uma dinâmica sociopolítica caótica tem uma força intensa para estimular o apego a discursos extremistas. Considerando a dificuldade de contornar a situação quando ela já está dominada pelo radicalismo e extremismo, a melhor opção seria evitar os cenários caóticos, por meio da perpetuação da consciência social, cultural, política e, principalmente, coletiva.



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