Não existe nada de especial nele. A sua melhor versão foi a que eu criei na minha cabeça e ela jamais existiu de fato. É até difícil falar sobre ele, porque não tem nada de mais para ser dito. Se ele fosse uma palavra seria “normal”, talvez “medíocre” ou “insosso”.
Insosso... Se ele fosse uma comida seria aquele miojo que fazemos de noite quando estamos com fome e não há nada para comer em casa. Até que é bom, mas encontramos em qualquer mercado de esquina um igual.
Lendo isso as pessoas devem se perguntar: “Nossa, de quem será que ele tá falando?” Acho mais fácil perguntar de quem eu não estou falando. Todas as pessoas pelas quais me apaixonei se encaixam nessa breve descrição. Por que são todos iguais? As mesmas caras, as mesmas vidas, as mesmas personalidades…
Sempre falei que algumas pessoas são uns "The Sims da vida real", porque nesse jogo escolhemos a personalidade dos avatares, que são sempre no máximo 5 traços, todos extremamente genéricos. Muito realista esse jogo! Conheço várias pessoas assim!
Acho que é mais fácil se apaixonar por alguém assim porque quando não tem nada lá você pode criar sua própria fantasia. Nela, a pessoa é incrível, perfeita, super profunda. Quando você percebe, já está apaixonado, e por alguém que nem existe.
No fim, quando a ilusão acaba, o que mais dói não é que tenha dado errado entre você e ele, mas sim a morte de uma pessoa incrível, só para vê-la ser substituída por uma versão barata, patética.
Não sei se um dia superarei. Não eles, mas o luto pela morte dos meus maravilhosos personagens, e o fato de existirem cascas ambulantes que se parecem com eles, mas que jamais conseguirão ser como eles, só me faz mais triste, pois sou constantemente lembrado dessas mortes. Me dói muito ver as pessoas incríveis que eu criei substituídas por embalagens de mau gosto ambulantes.
Se estivesse me sentindo mais ousado hoje, diria que os criei do zero, mas não é bem verdade, criei-os a partir de um material inicial bem ralo. A partir dos "The Sims da vida real”. A partir de 5 adjetivos genéricos criei odisséias inteiras, dignas tragédias gregas. Como sempre, acabam mal, em morte...
Enfim, vivo permanentemente enlutado pela morte de cada uma de minhas criações.
Autoria: Linneo Adorno
Revisão: André Rhinow e Gabriela Veit
Imagem de capa: Pinterest
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