Era mais uma noite estrelada. As sombras das árvores eram criadas pela luz da lua. Meus pés descalços doíam por causa do asfalto e minha mente voava como chumbo atravessando as nuvens. Eu caminhava na direção a que o luar me levava. Três da manhã e eu ainda ali, vagando por horas e horas.
Tinha sido um dia longo e minha mente gasta já estava impossibilitada de raciocinar.
Eu havia encontrado o Amor naquela noite. Estranhei-o. Como uma alma desprendida da matéria física, vagou pelos becos em que eu o seguia. Seus passos eram acelerados como os batimentos de um ser apaixonado, mas era escuro, como a noite de uma cidade poluída.
Acho que ele buscava algo...dava pra ver um vazio em seu peito.
Foi difícil me aproximar do Amor. As ruas estreitas em que o buscava eram mal iluminadas e o grito de almas presas a paredes sujas só se tornava obstáculo.
Logo após algumas vielas, ele desistiu de fugir e, pingando como chuva, pude ouvir suas lágrimas escorrendo até sua boca, molhando certa secura.
Estava frio e o chão, molhado por conta da chuva das nove. Aproximei-me. Com a cabeça baixa, era difícil enxergar o rosto de tal beleza descrita desde o nascimento do homem.
Onde estava toda a cor?
Cinza.
Dor.
Perda?
Eu queria conversar com o Amor, tentar entender porque se apagara do resto do mundo, mas ele era como um cofre cujas senhas eu não possuía.
Após alguns minutos de silêncio, o Amor me encarou. Olhos pequenos desenhados pela natureza, secos pelas lágrimas que haviam caído. Azuis como as ondas do mar e, em uma fração de segundos, felizes de eu ainda estar ali. Através de um sorriso genuíno, de forma simplesmente complexa, pude entender porque tanto sofrimento o Amor tinha. Como fonte de energia, ele alimentava os corações de humanos egoístas e tornou-se difícil se abrir para o mundo quando tantos se fechavam para ele. Tantas almas o buscaram, enfraquecidas e incompletas…
Mas era mais uma noite estrelada e as sombras das árvores ainda eram criadas pela luz da lua. O Amor me levava ao caminho do luar e eu pude talvez ajudá-lo a reamar, não aos outros, mas a si mesmo. Conforme o caminhar, pretendia colori-lo novamente.
Autoria: Laura Nunes
Revisão: Letícia Fagundes
Imagem de capa: Amanda Valdez e Caris Redi/Reprodução: Forbes
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