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ENSAIO DAS DOLOROSAS DESPEDIDAS


Com pesar, me despeço. Olho para trás e vejo tudo. Não sinto nada. Talvez a melancolia me pese o peito. Às vezes me pego cheia de ânsia pela novidade. Outras vezes temo por me desprender num momento de insanidade repentina. Me alegro por saber que não sou mais quem fui. Me preocupo com quem vou ser. Contudo, me despeço. E de maneira completamente irracional, profiro: “sinto muito”.

É no encontro da volatilidade do adeus com a estabilidade do permanecer que surgem as mais belas ditas de amor. A urgência de uma resolução corrói a carcaça da linguagem, deixando-a exposta a todas as sensações que a confusão mental proporciona. O medo do futuro. A exaustão do passado. A certeza de que o presente não pode se manter o mesmo. Todo caos se esvai com o conformismo da decisão. Quase simultaneamente, as palavras ecoam na cabeça e no ambiente e, lentamente, se dispersam com o vento: “adeus”.

Quem está certo da separação não se retrai ao ir embora. Quem não quer ir, em miúdos, se despede. Com pesar, declara seu amor por quem fica, mas as ditas de amor são, na verdade, dedicadas a quem se vai.

Assim, me despeço.. Apesar das ressalvas das minhas decisões incertas, reafirmo a minha vontade. De me libertar das amarras. De não sofrer por águas passadas. De, finalmente, crescer. Com orgulho, lhe digo que, por amor, me vou. Com sorte, mantenho contato.


Autoria: Ana Luísa Issy

Revisão: Anna Cecília Serrano




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