EU A AMO
- Pedro Anelli Bastos
- há 2 dias
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Domingo à noite
Seis e meia da tarde, vou andando pela rua, caminhando de volta para casa. As roupas um pouco amassadas e um pouco sujas em alguns cantos, o olhar cansado, mas com um grande sorriso no rosto. É claro que estaria com um sorriso no rosto. Quem não estaria sorrindo depois de passar o dia inteiro ao lado da mulher que ama? Sempre vou à casa dela aos domingos, é o melhor dia para ela receber visitas, e também é o único dia que eu não estudo nem trabalho, ou seja, é perfeito para ficar a dois. Não demoro muito para chegar em casa, ela mora bem perto de mim. Tomo um bom banho relaxante, esquento um arroz e feijão que havia guardado da noite anterior, frito um bife com cebola e preparo uma salada de alface e tomate. Como assistindo ao jornal, escovo meus dentes e deito na cama. Deitado, passo um tempo refletindo sobre o dia, sobre ela. Penso em sua pele macia, seus olhos cintilantes, seu sorriso brilhante, seus cabelos belíssimos, seu senso de humor impossível de se achar em outra pessoa. Penso em sua luz e como ela ilumina minha vida a cada dia. Penso em como sou sortudo de ter alguém como ela na minha vida. Eu a amo.
Segunda-feira
Seis horas da manhã. Acordo, lavo o rosto, tomo um café, escovo os dentes, coloco meu uniforme e vou trabalhar. Trabalho em uma padaria, perto de casa, chamada Novo Pão. Comecei faz pouco tempo, eles precisavam de um balconista e eu precisava me sustentar. Trabalho aqui somente de manhã, à tarde e à noite foco nos estudos. Faço faculdade de Letras e sonho em ser professor. É impressionante como uma padaria fica cheia pela manhã, e é igualmente impressionante a variedade do público. Uma senhora comprando pão para tomar café, um senhor que — sabe-se lá como — consegue virar 4 copos de pinga às seis e meia da manhã de uma segunda-feira e agir como se não fosse nada, uma mãe e uma filha comprando um lanche para a escola; são muitos rostos, muitas vidas, todas reunidas em um só lugar. Dentre todos esses rostos, um me chama a atenção: com seu vestido branco e sua pele tão alva quanto a vestimenta, com aqueles cabelos macios e aquele olhar inconfundível. Não há dúvidas. É ela. — Oi, meu amor! — Exclamo do balcão. Ela me olha com um olhar surpreso, mas feliz. Abre um sorriso e responde: — Olá, meu bem. Quanto tempo! —E dá uma risadinha. Como eu amo a risada dela. — O que faz aqui tão cedo? — Vim comprar pão, acabou lá em casa e preciso tomar café. — Quantos vai querer? — Três está ótimo. — Três pãezinhos saindo imediatamente para a princesa! Ela dá outra risada, desta vez um pouco mais envergonhada. Ela fica vermelha quando eu faço esse tipo de piada, mas ao mesmo tempo se diverte. Por isso eu continuo. Entrego o saco com os pães para ela, e nos encaramos por um momento. Infelizmente não poderia beijá-la, pois não quero perder meu emprego, mas digo com toda a certeza do mundo que nossos olhares fizeram isso por nós, se entrelaçando e se comunicando de um jeito que somente dois amantes podiam se comunicar. Somos interrompidos por uma senhora vestida de preto que estava atrás dela, e que me olhava com um olhar bem irritado: — Ei, garoto! — Ela disse — Pare de sonhar e me veja cinco pães! E vá rápido que estou com pressa! Peço desculpas que valem tanto para minha amada quanto para a mulher de preto. Viro de costas para pegar os pães e, quando volto para entregar a sacola, minha doce rainha não estava mais lá.
Terça-feira
Chegando do trabalho, ligo para ela para podermos conversar. Não é nada de especial, só ouvir a voz dela me dá uma grande motivação para estudar, e como não nos vemos com frequência durante a semana, o telefone é de grande ajuda Disco o número da casa dela e espero na linha. Mais ou menos dois minutos esperando, em pé, ao lado do telefone. Chamando, chamando... parou. Caixa postal. Acontece, ela deve estar ocupada com alguma coisa, longe do telefone, ou só não está em casa. Tento novamente, mais três vezes e nada. Desisto. Se ela não atendeu, é porque não pode. Não há nada que eu possa fazer sobre isso. Pego minhas coisas e parto para a faculdade.
Quarta-feira
Hoje fui dispensado mais cedo das aulas. Meu professor de literatura inglesa sofreu um acidente quando estava a caminho da faculdade e não pôde comparecer. Fiquei triste, pois gosto bastante dele. Entretanto, isso significa que tenho um tempo livre a mais hoje. Ligo para minha amada e a convido para tomar sorvete. Nos encontramos na sorveteria Premiada no finalzinho da tarde. Ela, como sempre, usava um vestido branco e curto. Usava presilhas brilhantes nos cabelos, e seus olhos estavam lindos como nunca. Escolhemos nossos sabores e nos sentamos à mesa para comer. Enquanto conversávamos, notei alguns olhares estranhos para nós. Pareciam julgar, não sei dizer ao certo. Cheguei à conclusão de que todos estavam apenas com inveja. Inveja dela, por estar vestida tão lindamente, e inveja de mim por ter alguém tão iluminado em minha vida.
Quinta-feira
Hoje não conversei com ela. Apenas uma rápida ligação antes da aula. Decidi tirar o dia para focar nos estudos. Quero me dedicar neles para me tornar um bom profissional. Quero ganhar bem fazendo o que mais amo, e, acima de tudo, quero dar um bom futuro para mim e para ela. Quero que nosso casamento seja o mais luxuoso, na maior igreja, com o vestido mais bonito e com a melhor comida. Quero que nossos filhos tenham tudo do bom e do melhor, e que nunca falte nada para eles e nem para minha esposa. No final das contas, meu único objetivo com relação a ela é fazer com que ela seja a mulher mais feliz que este mundo já viu.
Sexta-feira
Nos encontramos na praça hoje, para passearmos e conversarmos. Contei para ela todos os meus planos e todos os meus pensamentos sobre o futuro. Ela, encantada, abriu um sorriso enorme, o mais lindo de todos. — Eu te amo. — Ela disse enquanto me abraçava. Um abraço apertado, que transmitia todo o amor que ela sente por mim. Abracei de volta, com um abraço tão apertado quanto, capaz de transmitir todo o amor que eu sinto por ela. Meu desejo é fazer dela a mulher mais feliz deste mundo, mas, neste momento, é ela que me faz o mais feliz de todos.
Sábado
Hoje saí para almoçar com um amigo. Fazia tempo que não nos víamos. Foi muito bom, colocamos o papo em dia, falamos sobre o presente, sobre o futuro e principalmente sobre o passado. Enquanto comíamos, ele, com um olhar tenso no rosto, disse em voz baixa: — Escuta... eu sei que não é da minha conta, mas eu preciso perguntar sobre isso. — Sobre o quê? — Como você está sobre... aquilo? — Aquilo o quê? — Você sabe... sua namorada... — Ah! Por que não falou logo? Nós estamos muito bem! Ontem mesmo estávamos discutindo sobre nosso futuro, e eu contei a ela todos os planos que tenho para nós dois. Ela ficou muito feliz. Sabe, eu sou um cara de muita sorte por ela ter escolhido ficar comigo. Ele deu um sorriso que pareceu forçado e me olhou de maneira preocupada. Não entendi o que ele quis dizer com isso, então apenas continuei comendo.
Domingo
Finalmente, domingo! Mais um domingo que passarei ao lado daquela que amo, daquela que me faz feliz.
Acordo bem cedo, tenho um delicioso café da manhã, tomo um bom banho, coloco minha melhor roupa, passo meu melhor perfume, pego minhas coisas e saio de casa radiante, com um sorriso enorme no rosto.
Saindo de casa, ando duas quadras para frente, depois viro à direita. Ando mais um pouco e viro à esquerda na esquina da padaria onde trabalho. Mais duas quadras, viro à direita, passo pela praça e sigo em frente por mais três quadras. Finalmente, chego à casa dela.
Parado à porta do Cemitério Boaventura, me preparo para mais um dia amoroso com aquela que me faz feliz.
Autoria: Pedro Anelli Bastos Revisores: André Rhinow e Isabelle Moreira Imagem da Capa: “Espírito”, por George Roux - 1885
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