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FALAR DE ANSIEDADE, SÓ EM SETEMBRO?!

No texto de hoje, nosso redator Miguel Guethi traz um tema que não podemos abordar apenas em Setembro: a ansiedade. Um problema que em sua natureza já é muito sério se torna ainda mais intenso em meio à pandemia. Como devemos lidar com isso?


Trago um tema que, se em cenários normais já está gritando, em uma pandemia, em que o contato social e nossas atividades fora de casa estão completamente limitados, talvez seja o momento de discutir o assunto, mesmo antes de Setembro chegar. O que deixo é um relato e um brado para que alguém nos escute: Falemos de ansiedade!


Ter ansiedade é, ao mesmo tempo em que seus pensamentos estão em todos os lugares, não querer sair da cama. É se preocupar a todo momento com o que estão achando de você, se você está incomodando, fazendo algo errado, e pensar que alguém está te olhando por algum motivo louco, mesmo que ninguém o esteja. É se achar insuficiente, ainda mais em um momento em que você não vê um futuro, porque sempre estamos pensando no futuro e em como tudo pode dar errado.


O que eu gostaria de gritar para quem convive com alguém com ansiedade é: não seja um c****. Pelo decoro, acho que isso consegue ser explicado ao falar sobre a EMPATIA. Essa palavra que está na boca de muitos, mas, na verdade, nem sempre entendemos seu real significado ou aplicação. É bonito usá-la nos discursos, mas o questionamento que gostaria de deixar é: será que estamos tendo empatia no meio de todo nosso individualismo?


Não gosto de pensar na empatia como “me colocar no lugar do outro”. Isso é impossível, cada um tem traumas e demônios diferentes e ninguém sabe, ou consegue saber o que é estar no seu lugar. Prefiro pensar na empatia como a capacidade de entender o que suas ações podem causar no outro, e agir querendo o bem dele e com responsabilidade. Para um universitário com problemas de ansiedade¹, você entender isso talvez seja a diferença entre ele desistir ou não de algo, passar ou não em alguma matéria, ter um bom desempenho ou não.


Isso porque o ambiente da FGV, especificamente, é capaz de ser desesperador, e estar rodeado por pessoas autocentradas só faz esse sentimento de insuficiência mais patente. Caso você seja um bolsista, isso ainda é temperado com doses significativas de classismo. Esse sentimento de que você não está dando conta é acentuado quando as pessoas com quem se está dividindo o curso e atividades agem sem empatia. Isso acontece quando, no EAD, tratam questões com o cinismo de que estamos todos passando pela mesma coisa, e que cabe a nós sabermos lidar com isso. Nos organizar, nos dedicar, ir atrás, sem preguiça.


Não, nós não somos todos iguais. Na verdade, somos todos diferentes, e por isso, pensar assim demonstra falta de empatia e um jeito nada novo de reafirmar a loucura da meritocracia. Pensar na universalidade em relação à saúde mental é cruel, é dizer que você podia estar tendo o mesmo desempenho do outro, mas não tem por falta de vontade, o que reafirma a meritocracia ainda mais. Assim, naturaliza-se a preocupação com o outro apenas em uma camada superficial, mas, se tal preocupação interfere meus planos, aí já é demais. Deixemos então para um post em Setembro.


Afinal, cada um tem sua luta e já tenho muito a me preocupar. Ter que fazer concessões, repensar alguma conduta, discurso ou indiferença seria muito pra mim. Até porque, esse que está nessa situação será meu concorrente, ou já é, e me esforcei tanto para estar onde estou, por que ele não pode se esforçar também, não é?! Ele poderia ter se programado melhor, poderia ter estudado mais, poderia ter dado um jeito. Mas claro, é “bad” ter ansiedade, se eu puder ajudar, estou aqui - desde que não interfira em algo que estou fazendo -.


Ter empatia é saber que uma das pessoas do seu grupo de trabalho sofre com isso e passar a segurança para ela de que ela vai conseguir, e, se não conseguir, você estará lá para ajudar. Na maior parte das vezes, se ela se sentir confiante, irá render mil vezes mais. Também é fazê-la se sentir em um ambiente em que não está incomodando, e que tudo está bem, e mostrar que o trabalho dela é importante e que está indo bem, mesmo que seus erros sejam apontados. A vida não deveria ser uma constante competição, mas, talvez para alguns, enxergar isso seja demais. O que tento acreditar é que as pessoas não são más. Elas só estão perdidas. Ainda há Tempo².




¹ Pequisas apontam que cerca de 62% dos universitários sofrem de ansiedade, em níveis baixos médios ou altos

²Criolo, Ainda há tempo. Albúm: há tempo. 2006

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