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HEREDITÁRIO: O HORROR VEM DE CIMA

No Espaço Aberto de hoje, Lucas Vasconcelos Silva apresenta sua visão a respeito do filme de terror "Hereditário", tecendo paralelos ao termo da "puxação" de traços e o que ele significa. Vem ler essa abordagem!

se nasceste no sul de Minas Gerais, é provável que já ouviste a expressão "ah, fulaninho puxou isso dos parente". o autor não está particularmente inteirado da relação do resto do brasil com a língua, portanto põe-se a explicar: quando alguém puxa de outra pessoa, significa que absorveu e adquiriu características de familiares mais velhos (pais, tios, avôs e o que valha). é quando andas igual a alguém que nunca viste na vida e tua mãe grita nossa filho, você ta andando igual aos parentes do guaipava, ou algo assim.

quando alguém nasce, fica claro que há certa predestinação àquela pessoa. certamente, por exemplo, o filho do cristiano ronaldo nasceu num universo futebolístico: todo estímulo que recebera na primeira infância era, potencialmente, relacionado a futebol. naturalmente, o robozinho (ou cris júnior) é um grande apreciador do Esporte. podemos dizer, portanto, que puxou ao pai.


outro exemplo é o do autor. sua mamãe tem dificuldades em controlar o volume da voz após uma-ou-duas taças de vinho. o autor, por ter puxado a mãe, enfrenta a mesma situação: já fora criticado inúmeras vezes por não saber falar baixo. faz parte. a essa altura do campeonato, mais uma derrota na vida, principalmente numa situação tão usual, parece que nem faz tanta diferença assim. seguimos.


o problema é quando puxa-se coisas ruins. câncer, maus hábitos, possessões demoníacas. e é disso que ‘hereditário’ trata.


a película dirigida pelo ascendente ari aster (autor de curtas incríveis como ‘the strange thing about the johnsons’, ‘munchausen’ e do excepcional longa ‘midsommar’), produzido pela a24 (que, caso o leitor desconheça, é uma produtora parcialmente independente de ótimos filmes) e estrelado pela sempre brilhante toni colette (de ‘pequena miss sunshine’ e ‘knives out’) fala sobre uma família lidando com a morte da avó, matriarca, e de como toda a merda hereditária subiu e chegou ao ventilador, sendo esparramada à medida que a diabólica senhora era enterrada.


acontece que a vovó era uma rainha, chefe, líder de uma seita demoníaca que venerava um demônio que fazia uma mãozinha esquisita. também acontece que a velhinha era tão obcecada com o tal capeta que (spoilers) ofereceu sua família (filha, genro e netos) como oferenda e receptáculo (seria esse o termo técnico correto?) para possessões.


por mais que a família do filme busque ser correta, boa e feliz, o inferno da vó bate à porta constantemente. e não há escapatória.

por mais que tentes a felicidade, algo que puxaste vai sempre te puxar para baixo.




eu ainda defendo que esse filme seja traduzido como ‘a puxação’ aqui no brasil, mas ninguém tem interesse em me ouvir (justificadamente).






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