top of page

IMIGRANTES EM SP… EXISTE AMOR NESSA SELVA DE CONCRETO?

No texto de hoje, nossa ex-redatora Isabella Grimaldi apresenta relatos de imigrantes que vieram ao Brasil em busca de uma vida melhor e as dificuldades e os triunfos que encontraram em seu caminho.

[Jenny, Bolívia]

“Eu não gosto de falar que era escravidão. Foi uma coisa que aconteceu comigo e com outras pessoas. Acho que a dona da oficina não queria me deixar ir porque ela via como eu trabalhava.” Jenny Llanque, Bolívia.


Jenny Llanque veio para o Brasil com 15 anos sozinha para trabalhar em uma fábrica de costura. Ela trabalhou durante 1 ano inteiro sem receber. Trabalhava das 6h até 00h e só parava para chorar no banheiro do fundo da casa. Ela fala que todo mundo que trabalhava na oficina de costura tinha medo da chefe dela, por isso ninguém se rebelava ou questionava as condições sob as quais eles trabalhavam.


Jenny estava trabalhando em condições análogas à escravidão. Apesar de todo o sofrimento, hoje Jenny fabrica suas próprias roupas e faz shows de rap com as suas irmãs, Pamela e Abigail. O trio se apresenta sob o nome de Santa Mala e as letras das músicas são criadas para fortalecer as mulheres e falar das dificuldades que nós passamos. As letras mostram experiências pessoais de cada uma das irmãs e falam de suas raízes andinas e também das dificuldades no Brasil. A música 19 de Diciembre, por exemplo, conta a história de uma mãe solteira criando a filha, cuja inspiração veio da vida de Pâmela, que sofreu muito cuidando sozinha de sua filha.


Jenny é um exemplo de superação dentro de um vasto universo de imigrantes e brasileiros trabalhando em condições análogas à escravidão. De acordo com dados da Veja, é estimado que, atualmente, 160.000 brasileiros trabalhem e vivam no país em condições semelhantes às de escravidão, ou seja, estão submetidos a trabalho forçado, servidão por meio de dívidas, jornadas exaustivas e condições degradantes. Por isso, nunca podemos esquecer que, embora existam histórias de liberdade após a submissão a este tipo de trabalho, a grande maioria dos imigrantes e brasileiros de regiões precárias ainda estão vivendo de forma desumana e presos… Presos no século XVI.


Quando a gente lê relatos como esse, é inevitável o questionamento: existe amor em SP?


Acho que a única resposta possível é: nem para todo mundo… Depende da sua cor, da sua origem, da sua classe social.



[Manier, Haiti]

“Por isso eu falei assim: o amor existe ainda. É difícil, mas o amor existe. Amor é quando você faz uma coisa que parece complicada pra você, que não parece fácil.” Manier Sael, Haiti.


Manier é haitiano e veio do Haiti para o Brasil de ônibus. Ele entrou no ônibus em saber onde iria ficar quando chegasse em São Paulo. Por sorte, uma brasileira ofereceu a casa dela e chamou outros 5 haitianos que estavam no ônibus para dormirem na casa dela. Eles ficaram lá por um mês e, hoje, Manier e os outros haitianos chamam o casal de brasileiros que os abrigaram de pai e mãe. Manier fala: “(…) esse casal a gente considera hoje meu pai e minha mãe. Quando eu casei, é minha mãe que entrou comigo no meu casamento. Esse amor eu não sei explicar.”


Manier conta que sonhava em beijar sua esposa na rua, porque isso não existe no Haiti. Lá, as pessoas não se beijam em público, isso só acontece na televisão. Quando ele beijou sua esposa na rua pela primeira vez, afirma que se sentiu um brasileiro.


A história de Manier parece ser o extremo oposto da história de Jenny e de suas irmãs. Pela história desse haitiano, existe amor em SP. As pessoas ajudaram-no quando ele chegou aqui. Mas, Manier é a exceção. Raras são as vezes que imigrantes dão sorte e não sofrem preconceito todos os dias. Acho que se existe amor em SP, ele depende da sorte e do amor que os brasileiros têm para dar. Isso depende do tamanho do preconceitos que as pessoas conseguem deixar para trás.



* Todas as informações foram retiradas do jornal Folha de São Paulo, no link:


Foto de capa: Katherine McCarthy

Comments


bottom of page