Mateus Oliveira de Andrade, aluno do 7° semestre de direito, compartilhou pelo Espaço Aberto uma nota que concerne à reforma do Sublepi da Edesp
In memoriam. Todos já nos deparamos com a expressão latina, via de regra usada para homenagear e marcar a lembrança de algum indivíduo que já tenha falecido. O uso dessa expressão é prática antiga, tão antiga quanto o costume de exaltarmos os feitos daqueles que consideramos dignos de lembrança. Entretanto, por ser prática tão arraigada em nossas mentes, as vezes esquecemos do significado que se encontra por trás dela, esquecemos o que realmente significa homenagear uma pessoa. Esse lapso de memória parecer ter atingido a Rua Rocha.
Recentemente o Centro Acadêmico tomou a iniciativa de reformar o sublepi (o famoso DA do direito). Essa reforma foi cercada de polêmicas, como por exemplo seus gastos exorbitantes (plantas e vasos custando 40.000 reais, quase metade do caixa disponível). Dentre essas polêmicas se encontra a que, ao meu ver, é a mais séria e uma das maiores gafes já feitas por essa entidade. Uma placa de homenagem constando o nome de um aluno associado a gestão pela sua participação no projeto de reforma.
Quando isso foi anunciado houve indignação generalizada. Afinal, nada mais absurdo do que a entidade representativa dos alunos escolher, a seu bel-prazer, homenagear com uma placa um jovem de 21 anos por ter participado do já polêmico projeto de reforma. Em sua defesa o CA alegou que não houveram custos, e, portanto, não existe qualquer problema na homenagem, claramente incapaz de compreender o cerne da discussão. A homenagem é um ato simbólico relevante, e é isso que se encontra sob fogo. Convido então o Centro Acadêmico para uma reflexão sobre o seu papel e o significado de uma homenagem.
Um Centro acadêmico é (ou deveria ser) uma entidade representativa do alunato, que tem como função a defesa de seus interesses. Ao contrário das chapas que o compõe, ele é entidade que perdura durante o tempo, portanto é necessário coerência e dignidade em sua conduta. Não é possível se esconder atrás de desculpas como, “mas foi a chapa x ou y que fez isso”, pois as ações sempre serão vistas como do Centro Acadêmico, e refletirão a imagem de seu alunato, tanto no presente como no futuro. Basta lembrar dos Centros Acadêmicos da PUC e do Mackenzie no período da ditadura militar para perceber como a atitude dessas entidades afetou a percepção, tanto interna como externa, que temos sobre essas faculdades e seus alunos. A comparação pode a princípio parecer extrema, mas ela é ilustrativa de como ações feitas no passado continuam reverberando no futuro, pouco importando quem foram as pessoas que decidiram o que. Essa visão institucional é necessária para administrar esse tipo de entidade, sendo muitas vezes preciso tomar um passo para trás e observar o quadro como um todo.
É por isso que prestar homenagem, e em especial, formaliza-la com uma placa a ser exposta para todas as futuras gerações de alunos e membros da faculdade é uma questão séria que requer cautela. Não se pode tratar o tema da mesma maneira que um pai quando coloca um desenho de seu filho na porta da geladeira. Prestar homenagem para um jovem de 21 anos que não fez nada mais do que exercer sua competência como membro de uma gestão do Centro Acadêmico é, além de egocêntrico, diminuir o valor de qualquer homenagem, futura ou passada, prestada por esta instituição. É como declarar “Homenageamos qualquer um, basta ser um membro e você também poderá erguer uma placa em seu nome. Você, aluno que participou do projeto x poderá ter o seu nome lado a lado com o de um dos fundadores dessa faculdade!”. Essa postura, além de desconsiderar o mérito daqueles que realmente merecem homenagens, é exemplo vivo de descaso com a instituição e seu papel.
Entretanto, apesar de tudo isso o CA insiste em seguir com essa empreitada egocêntrica. A atitude é digna de um monarca absolutista, não seria surpreendente ouvir amanhã alguém declarar “o CA sou eu”. Essa atitude é prova viva de que o CA nada mais é do que um grupo de amigos do rei se aproveitando de todas as regalias possíveis. Estamos presenciando Maria Antonieta dando, como um agrado, uma nova estátua para Luís XVI.
Sendo assim nada mais adequado que encerrar com uma homenagem. Uma homenagem póstuma aos princípios pela qual a Chapa Voz foi eleita, a integridade institucional do Centro Acadêmico e ao bom senso, todos fatalmente assassinados nesse delírio absolutista.
In Memoriam Centro Acadêmico Direito GV
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