UMA ODE AOS ATLETAS DA FUNDAÇÃO
- Elis Suzuki
- há 3 dias
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Todo final de ano a GV tem uma premiação: o Jaca do Ano. Pra quem não é atleta, e nem acompanha avidamente o Instagram da atlética, provavelmente esse nome não diz nada. Por outro lado, se você vive todos os dias essa realidade, é certamente um evento importante. Para alguns pode parecer algo besta, mas pra mim é um reconhecimento do que os atletas fizeram durante o ano; de todo o suor, as lágrimas, o cansaço e as abdicações necessárias para se dedicar ao esporte.
Às vezes até esqueço que estou na faculdade, que meu curso é na verdade direito, e que esse é o motivo pelo qual eu posso fazer parte de tudo isso. Não consigo imaginar minha graduação sem a natação, sem o handebol, sem o Econo… peço perdão a todos que não se atreveram a ingressar nesse mundo, mas com certeza essa é a melhor experiência universitária que eu me propus a participar. Não se preocupe que ainda dá tempo de entrar em um time, caso o meu texto faça você mudar de ideia.
Apesar do sono perdido, dos fins de semana dedicados inteiramente ao esporte, dos textos que tive de deixar de ler e de toda a dor de cabeça que tive lidando com os atletas (trabalho de DM também não é nada fácil), valeu a pena. Todas as minhas renúncias foram recompensadas: sei que fez sentido por todos que conheci ali e porque temos uma paixão em comum que nos une e nos faz acordar cedo num domingo pra poder representar uma faculdade (que às vezes nem temos certeza que faz sentido pra gente, mas o esporte sempre fez).
Talvez eu atribua importância demais para o Jaca do ano, é só um prêmio que um bando de alunos organizou para fazer a gente se sentir importante. Quiçá seja até politizado demais e nem represente a verdadeira opinião desses mesmos alunos (acredite, já me irritei bastante por isso). Então por que isso carrega peso tão grande no meu julgamento?
A verdade é que tudo isso que listei pouco importa, até ganhar o prêmio em si não é a chave, mas sim saber que criou-se um evento para prestigiarmos uns aos outros. A existência do prêmio já é uma ode aos atletas por si só.
Claro que ganhar também é uma grande honra, simplesmente ser indicada já me dá um orgulho e uma sensação de dever cumprido. Ter dois prêmios na minha prateleira também não é um incômodo grande: eles me lembram que tem gente enxergando esse esforço além de mim, que não estou sozinha nesse turbilhão do esporte universitário, onde a gente tenta encaixar treinos na maratona de estudos e na rotina caótica de um gvniano atolado em mil entidades.
Minha irmã sempre acha estranho eu gostar tanto disso tudo. Eu saio de casa vestida de preto amarelo da cabeça aos pés, com mais frequência do que eu gostaria de admitir. Minha mente nunca consegue fugir completamente das obrigações que tenho como DM da natação e atleta do handebol: dos revezamentos, das nossas lutas, dos treinos, dos jogos, das angústias e comemorações, dos problemas e soluções. Meu quarto é repleto de medalhas, troféus e mil grifes da GV, atualmente isso já faz parte de mim mesma. Frente a esse estranhamento da minha família, é bom saber que não sou só eu que ligo pra essa maluquice, finalmente tenho uma sensação de pertencimento.
E não é só a nossa atlética que faz essa comemoração. Apesar do Brasil não atribuir o devido valor ao esporte universitário e as faculdades não dedicarem fundos suficientes para o seu incentivo, aqueles que se sentem pertencentes e respeitam a dedicação dos atletas querem dar a devida importância para seu esforço. Os prêmios nascem então na contradição da nossa desimportância e do descaso para com o esporte universitário.
Os atletas precisam lutar pelo seu espaço. Em universidades públicas como a USP, apesar de terem um campus para seu treinamento, não recebem nenhum repasse da faculdade e as facilidades são raramente reformadas, tendo que se contentar com quadras de baixa qualidade. O time então se organiza e faz uma caixinha com seus integrantes para pagar técnicos, uniformes e campeonatos. Já na maioria das faculdades particulares, falta espaço: a administração das escolas opta por construir qualquer coisa e não uma área de esportes, de modo que os times acabam precisando se contentar com uma única quadra, pequena e também não muito bem cuidada. Apesar de receberem um repasse, não é minimamente suficiente, e novamente, os times se organizam e arrecadam dinheiro para pagar as despesas.
Reclamações à parte, sei que a GV tem uma das atléticas mais organizadas e os times se esforçam para garantir uma boa qualidade do esporte (não é atoa que finalmente conquistamos o título do Econo esse ano). Infelizmente essa não é a realidade de todas as equipes universitárias do Brasil: tem times que nem mesmo conseguem um técnico e os treinos são ministrados pelos próprios atletas; às vezes a oferta de quadras parece que desaparece e os times ficam sem treino por falta de espaço para praticarem o esporte; e em alguns casos o incentivo é tão baixo que os treinos são cancelados por falta de quórum.
Pagamos para poder praticar o esporte e nos esgotamos com a falta de incentivo, enquanto no exterior, muitas faculdades oferecem bolsas para que você as represente. Não vou nem mesmo entrar no mérito do machismo que está enraizado no esporte universitário, não só na falta de torcida para times femininos como na falta de pontuação para as atletas em algumas modalidades. É impossível então deixar de lado todos os problemas do esporte universitário brasileiro, mas não há como negar: é um dos últimos momentos que muitas pessoas têm a oportunidade de se dedicar ao esporte, depois a vida acontece e formar um time do nada, não parece mais tão fácil.
A nossa amada atlética, com sua logística improvisada e atletas com muito sangue nos olhos, garante então que o sentimento de pertencimento siga vivo. Cada time, com suas tradições e rituais, segue treinando e se esforçando, mesmo frente às adversidades.
O Jaca do Ano é mais um momento para garantir aos atletas que eles são vistos e valorizados. O evento consiste essencialmente em um encerramento do ano (com um spoiler do after movie do Econo). Temos uma série de premiações: por modalidade, de bixos e bixetes que já deixaram uma marca, dms e times que merecem um reconhecimento e atletas que se destacaram pelos seus resultados e o seu comprometimento com a equipe. É também um momento de confraternização e o dia perfeito para anunciar a gestão da atlética do ano seguinte.
Talvez seja um prêmio bobo para quem vê de fora, mas para os atletas é um ano inteiro pulsando ali. Diga-se de passagem, um ano que ganhamos o Econo, depois de muito tempo lutando por esse título. Um ano inteiro de dedicação e treinos. Um ano inteiro representando as cores preto e amarelo.
Autoria: Elis Montenegro Suzuki
Revisão: Leonardo Maceiras
Imagem de capa: Acervo pessoal







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