MAIS UMA ESTRELA
- Elis Suzuki
- há 2 horas
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É impensável para mim não escrever um texto sobre esses quatro dias. Vivo tão intensamente esse mundo que às vezes até esqueço que foi a faculdade que me colocou nesse lugar. Esqueço que faço Direito e não Educação Física ou simplesmente esportes.
Depois de muitos treinos, muitas noites sem dormir (ou dormindo muito tarde), muitas aulas que passaram em branco porque eu tinha mil coisas pra resolver, muitos surtos porque não ia dar certo, muitas alegrias porque a gente tinha altas chances, depois de muito… ganhamos uma segunda estrela.
Vivo isso pela natação. Vivo isso pelo hand. Vivo isso pela Atlética (mesmo que só um pouquinho). Até o dia 30 de abril os únicos pensamentos que cruzavam minha mente eram sobre o Econo, nem mesmo meus sonhos escapavam disso, qualquer outro assunto foi completamente apagado ou eu, com certeza, deixei para depois. Nem sei quantas coisas eu decidi que ia resolver pós Econo (agora eu estou pagando essa conta, mas não tenho dúvidas que tudo valeu a pena). Fiz promessa para a gente ganhar e dei minha vida para tentar ser a melhor atleta e melhor dm que eu podia ser.
Vivi isso pela natação. Essa foi nossa segunda estrela (tanto no masculino quanto no feminino). Segundo ano consecutivo que conquistamos o tão esperado título e tenho a honra de dizer que faço parte desse time. Já chorei tanto com eles que quando ganhamos eu nem tive lágrimas para derramar. É tanto orgulho do que a gente construiu que eu nem sei como colocar em palavras. Tem tanta gente que nem sabe que tem mérito nessa nossa vitória que não dá nem para listar.

Escrevo este texto numa tentativa de homenagear todos que fizeram isso acontecer. A Ju Arida que fundou esse time, o Thomas e o Pedrinho que criaram o tridente e toda a nossa estética, o Gui e o Tápias que sempre foram minhas referências na natação, o Thales, que carrega o espírito da natação no coração e faz questão de inspirar todos os bixos que entram, acolhendo-os na família, e a Lena que foi dm comigo. Todo mundo que passou pela nata e deixou sua marca, têm um dedinho nesses nossos troféus… nossos troféus!
Impossível não falar do meu dm, depois de um trabalho duro lado a lado, conseguimos guiar nosso time para a vitória, ou melhor, conseguimos formar uma família que estava disposta a dar tudo de si para ganhar. Obrigada por tudo Arthur, pelas raivas que passamos juntos e por todas as alegrias. A verdade é que a nata é assim: somos diferentes dos iguais. Nos apoiamos em cada momento e sempre torcemos, torcemos como se não houvesse amanhã. E como amo isso, e como eu amo vocês!
Viver as Economíadas com um time é algo mágico, todas as minhas medalhas seriam inúteis se a gente não estivesse junto. Cada braçada que eu dei foi por um time que confiava em mim, cada força a mais que eu fiz, quando já não tinha mais nada em mim, foi porque eu sabia que quando tirasse a cabeça da água ouviria vocês gritando meu nome. Nunca imaginei que encontraria uma família em vocês, mas simplesmente aconteceu, e de quebra somos todos muito talentosos e dedicados, então recebemos dois troféus pra poder contar história.
Não posso deixar de falar sobre uma luta que travamos também durante o Econo. Abdiquei de nadar os meus 100 medley para poder levantar um banner em cima do bloco, na tentativa de fazer com que alguém me visse, pois já cansei de escrever e gritar em vão. Eu tremia, tremia muito, enquanto segurava em minhas mãos aquelas palavras que significam muito para mim: “queremos ser respeitadas: nadar e pontuar como os homens, no 100 medey e no revezamento misto”. Já chorei muito, me decepcionei e xinguei mil gerações, não sei se aguento mais. Dessa vez, vocês gritaram por mim: “Devia pontuar”.

Nesta vida louca de universitário, cara nata, vocês são meu porto seguro, meus amigos e minha família. Não poderia pedir pessoas melhores para poder compartilhar essa luta e este título, levantar uma taça é bom, mas com vocês é ainda melhor.
Vivi isso também pelo hand fem. E como as coisas nunca podem ser simples, terminamos nosso Econo de maneira muito frustrante: não pudemos aproveitar nosso último jogo porque o estádio não estava em boas condições. Se tinha como jogar ou não, eu não sei, e não cabe a mim dizer, sei que tomamos a decisão de priorizar a saúde das nossas atletas e não podia concordar mais com isso, porque só quem sabe o que é se lesionar e ser impedido de praticar o esporte que tanto ama que sabe o peso da nossa escolha.
Mesmo assim, curtimos e conquistamos nossa medalha de prata com os dois outros primeiros jogos. Desde que entrei na GV o nosso time chegou na final e enfrentou (de igual para igual) a FECAP, um time de jogadoras de handebol (quase que profissionais), enquanto a gente faz isso só porque ama. A gente ama demais esse esporte, nem sei dizer porque, saio cheia de roxos e arranhões, não sei qual a graça de correr atrás de uma bola e bater em pessoas que não fizeram nada. Brincadeiras a parte, eu gosto de jogar handebol porque compartilho as quadras com vocês: só tem graça fazer um gol se eu vou olhar para o banco e ver meu time inteiro vibrando, só vale a pena ganhar e se doar ao máximo porque a gente vai poder ganhar juntas. Com orgulho, carrego no pescoço a terceira medalha de prata que ganhei pelo hand fem, mas que vale ouro nos nossos corações.

Repito, viver um Econo com um time é mágico e parece que todas vocês são fadas, ou melhor, bruxas. Só assim para a gente chegar na final de novo né? Tenho certeza que foi magia, não foi todo o nosso esforço: os treinos até meia noite e meia e as conversas incansáveis sobre que tipo de time aspiramos ser. Tenho orgulho do time que somos e de tudo que conquistamos dentro e fora de quadra.
E por último, mas não menos importante, vivi isso pela Atlética. Na confusão de mil responsabilidades tentei encaixar mais um trabalho. Infelizmente eu não consegui realmente ser Atlética no Econo: não fiz bata, nem caminhãozinho e muito menos alocação de ônibus, mas levei meu regulamento para todo lugar assim como fui instruída. Achei necessário reservar um espaço neste texto para vocês, a tal amada Atlética (ou patética, como são apelidados carinhosamente), eu sei o quanto vocês trabalharam para fazer a nossa experiência como atletas ser incrível. Como sempre, vocês erraram um pouco, mas se não errassem não seriam humanos e às vezes falta às pessoas lembrarem disso. Mesmo com as confusões, as dores de cabeça e todos os erros, no meio de mil acertos, levantamos a taça de campeão geral das Economíadas. Em 2025, a FGV foi campeã e o título voltou para a Bela Vista, depois de 7 anos.
É tão bom poder levantar essa taça, segurá-la com as minhas próprias mãos. Nem parece que é real. Meu pescoço está pesado de medalhas e minhas mãos cheias de troféus e nunca fui tão feliz por carregar tanto peso. Depois de muita batalha, ganhamos. Ganhamos sem nenhuma bolsa de esporte, ganhamos com times que treinam juntos (no meio de trabalhos e provas). Às vezes me pergunto se vale a pena, de vez em quando deixo de lado meu curso e mil outras responsabilidades, mas sentindo esse ouro em minhas mãos sei que valeu.
Hoje tenho duas estrelas no peito da nossa atlética, e duas estrelas no peito da natação. Como é bom ser bicampeã. Fiquei pensando onde encaixar a segunda estrela: olha que problema bom! Acho que depois desse feriado, meu símbolo favorito é a estrela - de preferência, duas juntas.
Autoria: Elis Montenegro Suzuki
Revisão: Isabelle Moreira
Imagem da capa: Colagem da autora
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