Eu costumava achar as borboletas lindas. Quando tinha cinco anos, fui em um borboletário e mudei de ideia. Vi aquela lagarta que carrega asas que iludem quanto a sua beleza. Passei a dizer que tinha medo de borboletas.
Toda vez que uma pousava perto de mim, eu fugia.
Não tenho um motivo racional para isso, mas sinto um nojo e uma repulsa enorme por seres que rastejam. Então, esse bicho voador traiu minha confiança sendo mais um deles.
Neguei a presença borboleta por muitos anos. Depois de um tempo, parei para refleti-la com um olhar mais maduro. Finalmente senti empatia, quando percebi que ela não é exatamente uma traidora.
Ela cresce e aflora sua arte. Ela era aquela criatura desengonçada e estranha que tinha algo a dizer. Sua feiura é a animalidade convertida em essência, algo que permanece e macula.
Quem se deixa ser borboleta usa de seu casulo como um ateliê. Constrói-se da desconstrução do que era. Continua sendo o mesmo, mas com outra roupagem. Mais bonita, convidativa e aceitável.
Pensando bem, voltei a duvidar da borboleta, pois sigo sem conseguir chegar perto dela. Não é mais um medo, é um resquício do meu velho problema com rastejantes. Ela não deixa de ser um deles só porque agora tem belas asas. Basta estar próximo o suficiente para compreender.
Entendi, enfim, que algumas coisas são muito mais bonitas de longe. De perto, precisamos atravessar as nossas próprias barreiras para que mantenhamos a admiração. Às vezes, nem isso. A borboleta pode ser imperdoável.
Autoria: Maria Eduarda N. Freire
Revisão: Bruna Ballestero e Beatriz Nassar Imagem de Capa: Blue Morpho Butterfly (1865) de Martin Johnson Heade.
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