Hoje, apresentaremos um texto do espaço aberto, que foi mandado à Gazeta anonimamente. O autor demonstra sua visão dos cortes de verba na educação, assim como dos protestos.
Atualmente, com a reforma da previdência sufocando nossas contas públicas, muito se fala em cortar na educação. Isso, logicamente, desencadeou uma reação dos estudantes que afirmam ser um absurdo cortar da educação. Bom, primeiramente, o que foi anunciado não era um corte, na verdade era uma contenção de futuros gastos que ainda não foram efetivados. Ou seja, não se está cortando da educação, se essa é a preocupação. Bom, pelo menos ainda não.
Agora, o debate mais importante não está em cortar ou não os gastos pois, efetivamente, se cortassem do orçamento atual os 3,5% destinados à pesquisa e também os demais gastos não obrigatórios, ao meu ver, não faria diferença nenhuma. Bom, por quê? Porque o essencial de um sistema educacional é produzir pessoas capazes de gerar conhecimento para o Brasil e para o mundo. Ou seja, criar ideias e invenções que agreguem ao vasto conhecimento que foi construído no mundo ao longo da história. E, no centro dessa discussão, existe a noção do governo de que certos conhecimentos são mais importantes do que outros. Diga-se: ciência, tecnologia e matemática são mais importantes do que filosofia ou sociologia. Será?
Sobre as primeiras, é um absurdo a noção de que uma área de conhecimento é superior a outra, seja ela filosófica, empírica ou religiosa. Argumentar que existe uma hierarquia é menosprezar milhares de anos de história da humanidade nos quais, de geração em geração, se usou os meios de conhecimentos de formas interligadas para construir o nosso presente. O que nos diferencia das pessoas de 50, 100 ou 100 mil anos atrás é o fato de que hoje temos um maior conhecimento do que elas tinham. Logicamente, com o passar do tempo, mais e mais ideias inovadoras que agregam ao bem e ao avanço da humanidade são criadas.
Ben Shapiro traça isso bem ao argumentar que os fundamentos da civilização ocidental são baseados na filosofia (veja a importância desse conhecimento) judaico-cristã, que foram posteriormente complementados por ideias de liberdade e propriedade advindas do liberalismo e do sistema capitalista, resultando na sociedade mais livre e mais avançada que já existiu na história da humanidade. Ela é assim para os homens e as mulheres. Contudo, isso não significa diminuir a luta para se atingir uma verdadeira igualdade de gênero mas, se comparada com as demais sociedades do mundo, com outros sistemas de valores, com certeza vivemos na sociedade mais livre e mais igual. Esses fundamentos permitiram que ideias abstratas e filosóficas andassem de mãos dadas com invenções científicas que foram distribuídas a preço baixo, melhorando o padrão de vida de muitas pessoas. Construímos carros, inventamos a vacina, lutamos pela igualdade de gênero e agora estamos tentando colonizar Marte e curar o câncer. Graças a esses valores e aos conhecimentos construídos no passado é que conseguimos construir mais conhecimento para o futuro.
Mas de todos esses marcos de conquista citados, nenhum veio do Brasil. Não é preconceito, não é desvalorização nacional, é fato. Qual grande inovação brasileira mudou o rumo da humanidade? Tudo o que fazemos é consumir conhecimento que veio de fora. Observando grande parte das pesquisas produzidas no país, quantas delas mudaram o mundo? Ou sendo menos exigente, quantas delas são pesquisas de conhecimento inovador que apresentam ideias que jamais foram debatidas antes? Pouquíssimas, tendentes a zero. A maioria do que se produz surge da utilização de ideias que vieram de fora ou invenções externas que são aplicadas na realidade brasileira. Fazendo uma comparação, em muitas das pesquisas feitas, já se sabia anteriormente o resultado, mas manipulou-se os dados para sustentar algum interesse. Isto, sinto lhes dizer, não agrega em nada, logo não é conhecimento. Se deixa de ser inovador, deixa de ser útil.
Isso é um fenômeno que pode acontecer muito mais na área de humanas, principalmente porque o produto final da pesquisa é uma concatenação de ideias (pouco inovadoras aqui no Brasil). As humanas aqui no Brasil olham o mundo com um olhar ex nunc, ou seja, olhando para o passado, usando modelos já exauridos e refutados. Além do mais, disseminam ideias de mundo importadas que não constroem, muito pelo contrário, se disfarçam de novas e de revolucionárias que apenas corroem as bases nas quais a nossa sociedade foi construída. É como construir uma casa tentando usar os materiais da fundação para construir o telhado. Parece inovador, mas no fundo, torna a casa inabitável e, logo, inútil.
Em comparação, olhemos as ciências, a tecnologia e a matemática. Essas áreas aproveitam ideias, mas o resultado final é, por definição, inovador, visto que são universais. Não adianta nada inventar um celular se o iPhone já existe, não adianta nada inventar a versão brasileira da prova da infinidade de números primos se ela já existe. É universal porque o problema só pode ser resolvido uma vez. E as exatas vivem para resolver problemas práticos do cotidiano, como melhorar a plantação, inventar um teste para câncer, dessalinizar a água, entre vários outros exemplos.
Sabemos que são as potências mundiais, os países desenvolvidos que contribuem com conhecimentos para o mundo que mais tarde são importantes. Por que a China não é uma potência mais relevante do que os EUA? Simples, os americanos dominam toda a tecnologia, toda a internet. Nós usamos Facebook, Google e Whatsapp e não Baidu e WeChat. Space X e Blue Origin querem ir para Marte. E a China percebe isso. Apenas hoje eles adotaram uma postura de inovação, principalmente com relação à energia limpa. Os chineses estão construindo um reator grande o suficiente para suprir quase toda demanda de sua matriz energética de forma sustentável. O Japão é a terceira economia na base de indústria e tecnologia, gigantes como a SoftBank estão captando $100 bilhões para investir em startups no mundo e não é à toa. Dá dinheiro e dá dinheiro porque é o futuro do mundo. Se o Brasil desejar ser desenvolvido, se quiser diminuir a pobreza no país, a falta de saúde e quiser melhorar o padrão de vida de todos, ele precisa adotar um programa de valorização das ciências. Precisamos realmente de pessoas qualificadas para inventar as próximas novidades do mundo.
Portanto, dizer que uma área de conhecimento é superior à outra é uma falácia de ideia e totalmente contra todos os valores em cima dos quais a nossa sociedade foi construída. Porém, ao se tratar do Brasil, observando os rumos da filosofia, das humanas, comparados com os das exatas, não me soaria absurdo se tivesse que escolher uma prioridade, escolher as exatas. É uma questão de urgência nacional. Para ser relevante precisamos produzir relevância. Infelizmente, ao longo da história, o país não desenvolveu nenhum conhecimento inovador a partir de pesquisas nas áreas de humanas. Então, se não está dando resultado, para que continuar a forçar a mão, principalmente quando a educação se encontra em crise por causa da falta de produção de conhecimento, e não por uma questão orçamentária, ainda mais quando o país tem um dos piores IDHs do mundo, qualidade de vida pífia, insegurança e muito mais? Resolver tudo isso é possível, porém, tem que se escolher corretamente onde investir, onde estimular para dar resultados. Como historicamente, como no futuro, as ciências e as exatas demonstram mais evidentemente um caminho para a salvação do que as humanas. Estimular as primeiras é estimular a produção de conhecimento relevante, ou seja inovador. Com os estímulos corretos, por que não pode ser o Brasil o primeiro a chegar em Marte, o que inventa a cura da AIDS, o que resolve os grandes problemas matemáticos, o que cria a próxima empresa de um trilhão de dólares? Se fosse assim, produziria novos conhecimentos que poderiam ser utilizados para melhorar a vida dos brasileiros e de outras pessoas do mundo.
Vamos investir onde existem verdadeiras chances de retorno ao país e ao mundo. No momento, por sua natureza, parece-me que as maiores chances estão nas exatas. Não que as humanas não sejam importantes mas, no momento, elas não demonstram sinais de produção de conhecimento inovador. Enquanto estamos apenas regurgitando o que outros pensadores de fora estão criando, será que vale a pena investir em pesquisa de humanas? Se pesquisa não devolve conhecimento e novidade, ela realmente valeu a pena? Acredito que não. Em contrapartida, a área de exatas, acredito que, se efetivamente estimulada, pode levar o Brasil para outras dimensões, podemos ser uma nação desenvolvida e tenho a certeza de que com o desenvolvimento de ciência e tecnologia, o desenvolvimento das humanas vai seguir logo em diante.
Então, não deve ser uma questão ideológica como fala o governo de combater marxismo cultural. Isso é uma noção babaca para dizer o mínimo. É questão de construir um país inovador capaz de ter uma educação de qualidade e capaz de providenciar uma qualidade de vida muito além da atual para a maioria dos nossos cidadãos.
Autor anônimo
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