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MESMICE



Caro leitor, preciso ser honesto: há algum tempo, sinto uma mesmice na minha escrita. Sinto que não tenho me aventurado muito aqui. Preso nos mesmos estilos, nos mesmos tópicos, nos mesmos temas. Acanhado frente à ideia da novidade, sinto que faço e refaço crônicas semelhantes e monomotivadas, sob as quais despejo os mesmos aborrecimentos. Decerto, faço uma mudança aqui e ali, mas, no todo, sempre digo a mesma coisa e da mesma forma. Penso constantemente em mudar, tentar algo novo, como tratar de outros assuntos mais relevantes, escrever um poema no lugar de uma crônica piegas ou até mesmo fazer um texto argumentativo. Mas tenho medo disso tudo: não gosto dos poemas clichês que escrevo e detesto ainda mais as argumentações rasas que tento construir. Não me sinto intelectualmente capaz de criticar um filme ou um livro e me sinto totalmente pedante ao escrever um simples verso.


Não posso negar que, às vezes, me arrisco e que tive algumas tacadas de sorte. De forma quase instintiva, me apego aos louros desses acertos. Então, repito incessantemente a nova fórmula de sucesso. Como consequência de algumas poucas crônicas que escrevi, tudo que faço agora se assemelha a uma réplica mais melosa, frágil e presunçosa das anteriores. Mais uma vez, caio na mesmice. As poucas mudanças que arrisquei, acho que já as exauri e, com urgência, preciso buscar uma nova. Para, então, eu novamente me cansar. Fatalidade inevitável. 


Replico textos, temas e formatos. Replico escolhas e comportamentos. Dentro e fora da escrita me resguardo na mesmice. Acho que não sou do tipo que abraça a novidade ou que toma grandes atitudes. Não me arrisco com novas escritas e não me arrisco com novas pessoas. A mudança exige exposição e vulnerabilidade, apuros que não estou disposto a passar. Acovardado, reproduzo frases prontas e ideias de meia-duzia de livros que li anos atrás. Sou sempre o mesmo e não saio da zona de conforto. Não tento novos hobbies ou novos hábitos. Afinal, não quero correr o risco de todos me descobrirem como inexperiente, incerto e pedante. Assim, opto pelo marasmo indefectível.


No fim, sinto que somente despejei aborrecimentos. Como sempre tenho feito. Repito as mesmas fórmulas à espera de resultados diferentes. Uma escrita lamurienta e obstinada, outros 4 parágrafos de texto corrido. Eis aqui mais um relato piegas, meloso e desinteressante. Afinal, me mantenho sempre na mesmice.


Autoria: Giovanni Tortorella 

Revisão: Artur Santilli e Laura Freitas

Imagem da capa: Automat, de Edward Hopper



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