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O GARIMPO ILEGAL NAS TERRAS INDÍGENAS YANOMAMIS


Meninas e mulheres estupradas, aldeia queimada, comunidade desaparecida, aumento de casos de malária, desnutrição e alcoolismo entre indígenas são algumas das ocorrências provocadas pelo garimpo nas Terras Yanomamis.

Recentemente, a indagação “Cadê os Yanomamis?” repercutiu nos canais midiáticos brasileiros. A pergunta faz referência à aldeia da comunidade Aracaçá, da Terra Indígena Yanomami, que foi encontrada queimada e com seus vinte e cinco moradores desaparecidos, após denunciarem o estupro e o desaparecimento de crianças indígenas de 12 e 3 anos, respectivamente, por parte de garimpeiros.

Os Yanomamis são um dos maiores povos indígenas parcialmente isolados. As 371 comunidades dividem-se pelo território de Roraima e do Amazonas, no Brasil, e no sul da Venezuela. O povo vem sofrendo com o garimpo desde 1970, ano em que se iniciou a construção da rodovia Transamazônica, que resultou na dizimação de duas comunidades inteiras em decorrência de doenças trazidas pelo homem branco [1]. Os quase dez milhões de hectares foram demarcados apenas em 1992. Ainda, estima-se que vinte mil invasores ocupam as terras [2].

Uma petição produzida pela Hutukara Associação Yanomami e pela Associação Wanasseduume Ye’kwana, com assessoria técnica do Instituto Socioambiental (ISA), ao Supremo Tribunal Federal (STF) revela, detalhadamente, o massacre da população Yanomami [3]. De acordo com o relatório, as invasões às terras são acompanhadas de tiros e bombas de gás lacrimogêneo, como a ocorrência registrada na comunidade Maikohipi, região do Palimiu. Também há registros de aliciamento de jovens indígenas da cidade — por meio da oferta de armas de fogo —, agressões e mortes, que foram ocasionadas por atropelamentos, conflitos armados e afogamentos.

Em 26 de abril, a Hutukara foi notificada sobre o suposto estupro que ocasionou a morte de uma criança de 12 anos e sobre o desaparecimento de uma criança de 3 anos que pode ter sido jogada de um barco no rio Uraricoera durante o ataque à comunidade Aracaçá [4]. Em 2020, outras denúncias de estupros que resultaram em óbito também foram feitas, três yanomamis de 13 anos foram embriagadas e estupradas por garimpeiros.


De acordo com a denúncia, um garimpeiro que trabalha na região certa vez ofereceu drogas e bebidas aos indígenas, e quando todos já estavam bêbados e inertes, estuprou uma das crianças da comunidade.”, aponta a petição.


Dias depois da denúncia de abril, a aldeia, que antes era o lar de vinte e cinco indígenas, foi encontrada queimada e vazia. Posteriormente, eles foram vistos em outra comunidade, alguns deles acompanhados de garimpeiros.


Não se sabe ao certo quem queimou a aldeia, se foram os invasores, como forma de retaliação às denúncias, ou os próprios yanomamis, visto que há uma tradição do povo que orienta a queima e a evacuação do lugar onde moram se algum parente morre [5]. Os indígenas encontrados recusam-se a relatar o que houve, pois teriam recebido 0,5g de ouro para manterem-se em silêncio, de acordo com informações obtidas pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY).


Além disso, é possível encontrar no documento dados sobre a fragilização da saúde dos indígenas. Segundo o relatório, em 2020, na região do Palimiu, que tem uma população de cerca de 900 yanomamis, ocorreram mais de 1.800 casos da doença, ou seja, os dados indicam uma média de quase dois casos de malária por pessoa. Já na região do Arathau, os casos de malária cresceram 1.127% de 2018 para 2020, e 79,34% das crianças de até 5 anos encontram-se desnutridas.


Aproveitando-se da situação de fome, os garimpeiros oferecem comida aos indigenas em troca de sexo com as jovens:


Se você tiver uma filha e a der para mim, eu vou fazer aterrizar uma grande quantidade de comida que você irá comer! Você se alimentará!”, dizem os garimpeiros, segundo a petição.


Essas são só algumas das denúncias referentes a 2020 e 2021, mas os Yanomamis enfrentam a invasão de seu território, a destruição de seus lares, culturas e tradições há mais de 50 anos.


Revisão: João Vitor Vedrano e Bruna Ballestero

Capa: Arte criada por Cris Vector


 

FONTES:

[2]: Yanomami - Survival Brasil


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