“O preto e branco só me traz tristeza,
O preto e branco me tirou a paz”
Querido leitor, é isso mesmo que você leu, meu time quer me matar. Você pode até estar pensando “Nossa, que exagero” mas é a verdade, meu time ativamente busca a minha morte. “Ok, você pode até se desesperar com seu time, querido autor, mas não pode pensar que ele literalmente quer te matar”, e eu respondo: você tem certeza? Você consegue me prometer isso? Porque pelo o que eu vejo, não posso garantir…
Meu time é ruim, querido leitor. Mas não é só ruim, é muito ruim. Assistir meu time jogar é agoniante, me gera dor física e acaba com o meu dia. Todo dia quando eu lembro que meu time joga meu sorriso some, minha boca seca e minha mente começa a calcular quantas vitórias são precisas para sair da zona de rebaixamento. Eu não tenho vontade nenhuma de assistir aos jogos, eu tenho medo de ligar a televisão e ser confrontado com o suposto “futebol” que é praticado ali, mas assisto mesmo assim, como é meu dever de torcedor: apoiar na lama ou nas estrelas, na vitória ou na derrota.
Para aqueles que não me conhecem ou não conseguiram adivinhar sobre qual time estou falando, o pano de fundo deste texto é a atual fase do Corinthians, mas não seu tema. O que eu quero realmente demonstrar com esse desabafo é quanto nossos times conseguem nos afetar emocionalmente. Dito isso, eu lhes convido a relaxar e me acompanhar nessa jornada onde eu relato a atual situação do meu time e perco lentamente a minha sanidade.
Muito bem, comecemos essa epopeia pelo ano passado. Após uma temporada surpreendentemente boa em 2022 – com o time sendo finalista da Copa do Brasil (que perdeu nos pênaltis) e tendo ficado sempre entre as quatro primeiras colocações no Campeonato Brasileiro – as expectativas eram altas para 2023, mas já em dezembro, sem a temporada nem ter começado, tudo deu errado. O então técnico do Corinthians decidiu sair do clube alegando que precisava voltar para Portugal devido à saúde de sua sogra. Um mês depois ele fechou um contrato para treinar o Flamengo. A sogra passa bem.
O ano de 2023 foi sombrio, e com isso quero dizer que foi de um futebol fraco. Diversos técnicos passaram pelo clube, o craque do time nos deixou para realizar seu “sonho” de jogar no futebol qatari e o time batalhou na metade de baixo da tabela o ano inteiro. Para melhorar tudo, esse foi um ano eleitoral no clube, que finalmente tirou do poder a chapa “Renovação e Transparência”, mandatários do time a mais de uma década e contraiu uma dívida exorbitante que hoje se aproxima de 2 bilhões de reais.
Com a alternância de poder, a expectativa para esse ano era boa, com membros da diretoria proclamando que “a farra acabou”. Jogadores veteranos de altos salários que não rendiam mais o que deveriam foram dispensados, contratações pontuais foram feitas e havia a promessa de fechar o maior patrocínio master (aquele com o nome grande na camisa) da história do futebol brasileiro. Sinal que ia dar certo, né? Errado, tudo foi quase que imediatamente pelos ares. O campeonato paulista do Corinthians foi um desastre, provocando mais uma troca de técnico. O patrocínio foi cancelado devido a um esquema de corrupção e até o diretor que decretou o fim da farra deixou o clube. A esse ponto eu já estava tão animado quanto uma tragédia grega.
A contratação de mais um técnico português não foi suficiente para salvar a campanha do Timão no Paulistão, deixando o clube fora da fase de mata-mata da competição. O começo do Brasileirão foi pífio, muito ruim mesmo, porém o clube teve a sorte de enfrentar oponentes fracos e avançar na Copa do Brasil e na Sul-Americana. Contudo, o tenebroso futebol praticado pelo time fez com que a situação se complicasse no Brasileiro, causando outra troca de técnico, e dessa vez foi contratado um argentino, que enfrenta uma situação desconfortável no Campeonato mas segue avançando milagrosamente nas Copas.
“Mas qual é o problema do time?” O problema está em todas as esferas: administrativa, física, metafísica, espiritual e qualquer outra que você conseguir encontrar, meu caríssimo leitor. O time, para simplificar, é frustrantemente ruim. Tanto a defesa quanto o torcedor precisam de um mapa: eles para se acharem na área e nós para entendermos o que eles querem fazer. Uma série de pênaltis infantis cometidos pela zaga infectam o Corinthians como uma praga, laterais sobem pelo campo, perdem a bola de maneira burra ou erram os passes mais inacreditáveis que você possa imaginar e voltam fazendo faltas bobas.
O meio de campo presta. Rodrigo Garro é um excelente meio-campista e batedor de falta, e o time até tem bons volantes, quando não estão machucados (o que é quase sempre). O maior problema, e o fruto de toda minha raiva, ódio e sofrimento, é o ataque. O ataque do Corinthians é péssimo. O ataque do Corinthians é pior que queimada na amazônia, pior que o crime organizado e talvez pior que um atentado terrorista (às vezes até parece um). É muito ruim.
Exageros à parte, nossos centroavantes simplesmente se recusam a balançar a rede. Chances claras, quase debaixo do travessão, são bizarramente perdidas. A vontade de fazer algo complexo e bonito toma a vez do que é fácil e óbvio (pelo amor de Deus, infeliz, passa para o lado!). Pontas que insistem em pedalar – isto é, circundar a bola com os pés a fim de confundir o defensor – quando não devem e obviamente perdem a bola, porque são ruins. É tudo tão atroz que eu preciso pensar que eles são amaldiçoados por alguma entidade cósmica, pois se eu acreditar que um jogador profissional seja tão obtuso assim tenho medo que possa deixar de gostar do esporte.
Os únicos que não têm culpa da terrível situação atual, junto do já citado Rodrigo Garro, são o técnico (Don) Ramon, devido a seu curto trabalho e a ruindade do elenco que tem nas mãos, e o goleiro Hugo, que conseguiu fechar o gol do Time do Povo após a saída de Cássio – ídolo máximo do clube – e de seu programado sucessor Carlos Miguel, que preferiu seguir a carreira em um clube de baixa expressão da Inglaterra do que servir a quem sempre lhe defendeu.
“Ainda há esperanças?” Até que sim. No domingo, dia primeiro de setembro – data do aniversário de 114 anos do Corinthians – o time fez uma performance louvável contra o Flamengo, diante de sua torcida que lotou a Neo Química Arena. Em uma vitória de 2 a 1, a equipe demonstrou vontade de permanecer na elite do futebol brasileiro, mas essa vitória, por mais que tenha me deixado em um estado de euforia que eu nem me lembrava mais que existia, não muda o fato da situação ser extremamente preocupante. Ainda estamos na zona de rebaixamento com só 25 pontos e essa foi apenas nossa quinta vitória na competição neste ano. Pode dar certo, é inegável, mas está longe de uma certeza.
No começo deste texto estava um pedaço de uma pequena marchinha de carnaval Corinthiana, cujo nome não consegui achar, porém não incluí seu fim. Completa ela é assim:
“O preto e branco só me traz tristeza,
O preto e branco me tirou a paz,
Mas sou Corinthians e não te esquecerei jamais
Corinthians.”
Este é o cerne de meu texto. Sim, neste ano o futebol me machucou de jeitos que eu nem pensei que seriam possíveis, mas o ano ainda não acabou. Por tudo que esse clube representa a mim e à sua torcida, é meu dever acompanhá-lo até o fim. Enquanto existir uma chance, a Fiel Torcida, o verdadeiro torcedor, estará lá. E se cairmos estarei lá também, triste e cheio de ódio, mas estarei lá. E isto não vale só para o Corinthians: clubes gigantes como Vasco e Cruzeiro caíram para a Série B e suas torcidas estiveram com eles em todo o momento, em uma demonstração linda de carinho, devoção e apoio. O Santos luta hoje para subir para a primeira divisão, e sua torcida luta com ele. Outros clubes também estão sob a sombra do rebaixamento, como o Vitória, Fluminense e Cuiabá, mas ainda não se renderam.
O esporte é uma manifestação cultural e um promotor de comunidades, então não é uma surpresa que elas amem seus clubes, e o que é o sofrimento senão a prova de um amor? Mais que um jogo, mais que futebol, é paixão, e isso dói. O importante ao amar algo que é realmente bom é perseverar, e eu amo o Corinthians, e você ama o seu clube (ou não você pode não gostar de futebol, o que é totalmente válido também). Por isso eu não vou desistir do meu time, nunca, na vitória ou na derrota estarei lá, e não te esquecerei jamais.
Autoria: Eduardo Loeser
Revisores: Ana Carolina Clauss, Laura Freitas
Foto de Capa: Gazeta Press
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