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O PARADOXO DO LDRV: SABER SEM PERGUNTAR E TORCER PARA QUE SAIBAM SEM CHAMAR

Por quê as pessoas se expõem nos grupos de facebook? Qual o custo de mostrar a sua verdadeira realidade? É sair da zona de conforto? No texto de hoje, nossa redatora, Gabriela Pinheiro, tenta entender o impacto de se expor nas redes sociais.

Exposição. A palavra em si não é muito glamourosa, né? Na sua superficialidade, refere-se a uma mostra, seja ela de fotografias, de esculturas, etc. No sentido mais pessoal, muda um pouco: a ideia de se expor parece vir sempre com uma conotação ruim, como se fosse uma espécie de invasão. Não queremos que algo vire conhecimento público. O ato de se expor é contrário a isso. É desconfortável. Mas mesmo assim, insistimos na nossa exposição em grupos do Facebook repletos de conhecidos que ocupam espaços nas nossas listas de amigos. Pessoas com quem quase não trocamos palavras e muito menos olhares. Desabafamos, contamos verdades e vigiamos as reações dos outros, mas por que não transformamos o comentário para semi-estranhos em uma conversa olho-no-olho?

Ah, lá vai, o grande de clichê da substituição de olhares por telas. Mas até aí, as telas não nos privam dos olhares: Skype, FaceTime, Hangouts… podem não estar físicos e/ou próximos, mas estão lá. Mesmo assim, é um costume restrito a poucos. Afinal, ligar para a resenha pelo FaceTime é bem estranho. O que ele ou ela vão achar? Essa chamadinha por vídeo é um privilégio restrito àqueles mais próximos, se é que existem. Muitos detestam. Mas quando acontece, quanto tempo realmente passamos olhando pro outro? Fugimos do momento, olhamos o whats, as notícias, nós mesmos… não queremos olhar. Mas sabe o que é maluco? Se o outro está com o olhar fixo no seu, você só saberia se estivesse atento ou se ele se revelasse.

No LDRV, a situação é a mesma: a exposição existe, mas só é confirmada pela curtida. Mas e quando vemos e não reagimos? Não queremos fazer com que a pessoa saiba que a estamos vendo e é óbvio que sabemos que deve ter alguém fazendo o mesmo conosco. Quem será? Ao meu ver, tem algo intrigante em tentar descobrir. Também algo que pareça quase perigoso em descrever aspectos da sua vida, em mínimos detalhes e correr o risco de alguém aleatório ver, curtir, talvez até comentar. Talvez você queira se gabar, mandar alguma indireta já que falta coragem de chamar no Whatsapp. Ou tantos amigos estão no grupo que se expor é quase mandar uma mensagem para todos ao mesmo tempo. Pode até ser uma maneira de se assegurar de que você não está sozinho. Alguém está te vendo. Ou simplesmente perder um pouco de tempo. Independente da razão, todo dia que abrimos o Facebook, os posts de "desabafe aqui" e que perguntam se preferimos um tanque de gasolina ou a última boca que beijamos estão lá. Um conhecido já respondeu. E você, o que fará?

"Desabafe aqui". Mais de vinte mil comentários, todos relativamente vagos, porém presentes. Algo que incomoda, que irrita, te anima, te excita, te fascina… Por que contar indiretamente para milhares de desconhecidos e dezenas de conhecidos? Por que não chamar um amigo e realmente desabafar para ele? Têm 40 mil pessoas no grupo, mas não estaríamos nos isolando? O que seria um comentário a mais num mar de tantos?

Ver ou ser visto? Podemos fazer os dois. Queremos ver pessoas que nos interessam, que amamos ou até que odiamos e sermos vistos pelas mesmas. Se é voluntário, não é a exposição no seu principal sentido, mas continua com essa conotação. Não vamos afirmar que queremos ser vistos, nem que queremos ver os demais.

A exposição pode até ser ruim, mas quantas coisas você deixou de fazer continuando a participar? Quantas pessoas você deixou de chamar? Quanta ajuda você deixou de procurar? Quantas chances você perdeu por não se arriscar? O quê que isso tudo substituiu?

Fico pensando nas conversas que tenho com amigos e até com não-amigos, simplesmente pessoas que quero conhecer melhor. A experiência é tão diferente: tons de voz, risadas, olhares, gestos, jeitinhos, abraços...É muito melhor. Mas, ao mesmo tempo, insisto em comentar, em tentar ser vista por aqueles com quem não converso tanto, ou que até converso, mas que quero que saibam das coisas sem que eu conte, ou que demonstrem mais interesse do que mim. É um vício. Um passa-tempo. Um método de procrastinação. E perdi conta das vezes que torci para o meu comentário ter o mesmo efeito que teria uma mensagem ou uma conversa cara-a-cara. Ou que uma certa pessoa aparecesse no meu feed só pra eu saber como anda sua vida, ao invés de correr atrás dela.

É confortável; seguro e não seguro: aceito o risco de ser vista sem saber por quem e observo sem que saibam que vejo. Mas a questão persiste: qual seria o preço desse conforto?

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