O preconceito e o machismo, sempre presentes na sociedade, mudam de acordo com os valores e a cultura da época. Isso é retratado no texto de hoje com o exemplo do véu das mulheres muçulmanas. O texto é da nossa redatora Isabella Grimaldi!
O preconceito sempre fez parte da história. O machismo também. Eles estão sempre ligados aos valores e à cultura da época. Dependendo do quão conservador é o país, mais severo é o preconceito e mais aterrorizante é o machismo. A religião é, também, capaz de fomentar, ou amenizar, o preconceito e a cultura machista. O véu das mulheres muçulmanas é um nítido exemplo disso.
O Talibã dominou o Afeganistão de 1996 a 2001 e ao longo desses cinco anos, as liberdades e possibilidades das mulheres tornaram-se praticamente inexistentes. Elas não podiam mostrar a pele em público, então eram obrigadas a usar burca para sair de casa. Se as mulheres saíssem de casa mostrando a pele, elas seriam açoitadas. A obrigatoriedade do uso véu era uma máxima durante o Talibã, e ainda é nas regiões onde o regime fundamentalista persiste.
Na mesma linha, o Irã salta aos olhos. A Revolução Iraniana foi iniciada quando Ruhollah Khomeini, em 1979, outorgou uma monarquia e ordenou que as mulheres usassem o chador. Tal ordem deu origem a inúmeras manifestações de muçulmanas feministas nas ruas, reivindicando o fim da política compulsória do véu. Nessas manifestações, era comum avistar membros do Hezbollah com cartazes que diziam “You will cover yourselves or be beaten”. As mulheres manifestantes relatam que o espancamento alertado pelos membros do partido envolvia o uso de pedras, facas e até mesmo tiros.
Tanto no Afeganistão do Talibã como no Irã de Khomeini, as normas do véu foram aplicadas de forma rígida, com base em fundamentalismos religiosos e governos ditatoriais. Isso mostra como a interpretação extremista da religião pode incitar o preconceito e o machismo e, como consequência, violar os direitos humanos das mulheres que sempre estão na luta pela igualdade. Triste ver como a cultura e as crenças conseguem condicionar o modo como as minorias vulneráveis serão tratadas… Ou melhor, destratadas.
O hijab é visto no Ocidente de forma totalmente oposta e com outra carga de preconceito. Enquanto no Irã e no Afeganistão as mulheres foram obrigadas a usar o hijab, sob pena de sofrerem castigos físicos, no mundo ocidental, os governos estão proibindo as muçulmanas de usarem o véu em espaços públicos, principalmente em universidades e escolas. Há, portanto, uma tensão atrás do véu. O preconceito no Irã e no Afeganistão era contra as mulheres que não usavam o hijab. Nos países ocidentais, principalmente os europeus, o preconceito é direcionado às mulheres que usam o hijab. Tal paradoxo deixa nítido o quão atrelado o preconceito está com os valores e com a cultura do contexto em que está inserido e, por isso, como os ideais preconceituosos mudam com frequência.
A França é um dos países europeus mais resistentes e preconceituosos em relação ao véu usado pelas muçulmanas. Com as ondas de migração, há mais de 5 milhões de muçulmanos vivendo atualmente no país europeu, sendo 7,5% da população francesa, muçulmana. O governo francês respondeu a esse crescimento de migrantes e refugiados muçulmanos com leis que interferem na liberdade religiosa dos membros do Islã. Em 2004, a Assembleia Nacional Francesa aprovou a lei que proíbe o uso do véu nas escolas públicas. Posteriormente, em 2011, a mesma Assembleia votou a favor de uma lei ainda mais restritiva, a qual proíbe a burca e o niqab em todo e qualquer espaço público. Além disso, as leis determinavam punições relacionadas ao hijab: multa de 150 euros e um curso de cidadania francesa para as mulheres que usassem o véu e multa de até 30 mil euros, com possibilidade de prisão de até um ano, para os homens que obrigassem as muçulmanas a se cobrirem com seus véus. Evidente que esta postura do governo francês é absurda, discriminatória, absolutamente preconceituosa e, sobretudo, viola direitos humanos e coloca as mulheres em uma posição vulnerável dentro da sociedade.
Tudo isso nos mostra que, apesar do preconceito e do machismo estarem arraigados na sociedade desde sempre, eles mudam de acordo com fatores políticos, religiosos e culturais. Tudo isso é muito triste, porque revela que, embora mudanças aconteçam, sempre encontram um jeito de discriminar e de violar direitos de minorias.
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