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O SEU LADO DA MOEDA

Como todos sabem, atualmente, estamos inseridos em uma realidade de polarização política. E, as redes sociais, nada mais fazem do que intensificar esse problema. No texto de hoje, o nosso redator, Pedro Gama, aprofunda-se na questão da glorificação de figuras públicas decorrente disso, e como isso pode nos limitar de olharmos os fatos de forma mais crítica.

Pelas redes sociais, a informação é abundante e grátis, e todos são possibilitados de exprimir suas perspectivas publicamente. Nesse meio, o bombardeamento constante confunde informações qualificadas com opiniões e notícias não factuais. Rumores e fofocas ganham espaço e, é claro, as famigeradas fake-news também. Ademais, os conteúdos são sempre replicados de forma fragmentada, de forma que as manchetes ganham destaque, enquanto os textos, o mais importante, são esquecidos.


Apesar de sermos metralhados, as publicações em nosso feed são nada aleatórias. Na verdade, elas são selecionadas por meio de algoritmos que atribuem relevância de determinadas publicações a você, com base no que você curte, escuta, acessa e faz na internet. Isso faz com que apareçam em sua tela de celular posts, fotos, vídeos, artigos que sejam compatíveis com a pessoa que você é, com o que gosta e que esteja mais ou menos em sintonia com sua visão de mundo. Não minimize a importância disso, é o que você passa grande parte do seu tempo, em dose diária, fazendo.


Dessa forma, lhe são apresentadas notícias e opiniões, sabe-se lá se qualificadas, que reforçam as suas posições políticas de formas dicotômicas. Enquanto isso você as responde com um like ou um share, em uma publicação que você possivelmente sequer abriu, imagina ler. A polarização se enaltece e seu psicológico passa a funcionar de maneira bizarramente tribal. Você passa a questionar moralmente tudo que a tribo inimiga produz automaticamente, e também perdoa os deslizes morais assustadores de seus aliados.


Até aqui muito do que foi dito é familiar a você, leitor, que é muito bem informado e sabe que nas últimas eleições esse método de consolidação opinativa foi decisiva para a eleição do Bolsonaro. Mas pelo menos não se sinta mal, já que sabe que esse peso não carrega, já que, como você mesmo diz,“está do lado certo da história”. Engraçado. Não sabia que história tinha lado, como num jogo de futebol.


Verdade seja dita, esse texto é para você, meu companheiro de esquerda. É para você que acha que metade dos gastos públicos vão para pagamento de juros da dívida, ou que o antigo sistema previdenciário combate a desigualdade. É para você que perpetua o varguismo glorificando messianicamente figuras políticas. É pra você que manda texto de corações e homenagens amorosas ao ex-presidente e esquece do crime socioambiental de Belo Monte, e dos ataques às instituições. Quero que perceba que, apesar das consequências serem menos nefastas, sua cabeça funciona psicossocialmente como a de um bolsominion ao se informar pelas redes sociais, também quero que se sinta mal por isso. O debate precisa de menos achismos e de mais ciência. Dizem por aí que existem duas maneiras de abrir a cabeça de uma pessoa: por meio da leitura ou com um machado.


Recomendo o El País e Nexo, excelentes jornais de centro-esquerda, completamente grátis, com informações metodologicamente qualificadas e ótimos artigos de opinião.

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