O sonho acabou?
- Pedro Anelli Bastos
- 4 de jun.
- 3 min de leitura

Há 55 anos, numa quarta-feira, 8 de abril de 1970, as lojas de discos de toda a Inglaterra recebiam os primeiros lotes de Let It Be. Dois dias depois, no dia 10, Paul McCartney anunciava à imprensa que não trabalharia mais com os Beatles – e assim, de repente, chegava ao fim a maior banda da história.
Existem dois pontos a serem revistos neste último postulado: o primeiro deles diz respeito à expressão “de repente”. Àquela altura do campeonato, os Beatles já não eram a mesma banda há tempos – e não digo apenas na questão musical. Refiro-me, em especial, às relações pessoais. Seja pela dificuldade de lidar com a fama, ou pelos egos inflados e cada vez mais conflitantes de Lennon e McCartney (e, consequentemente, os reprimidos de Harrison e Starr), a verdade é que as relações entre os quatro garotos de Liverpool já não estavam mais nos seus melhores dias.
A outra questão, essa ainda mais destacada, se refere ao dito “fim dos Beatles”. Será que devemos adotar a mesma postura de John Lennon em seu primeiro álbum solo e simplesmente aceitar que “o sonho acabou”? Ou será que existe algo a mais a ser refletido sobre esse assunto?
Esses dois pontos podem convergir em uma só análise: quando, afinal, os Beatles acabaram? Foi quando George admitiu “desistir de ser um Beatle” em 1966? Ou foi quando Brian Epstein, empresário e um dos principais pilares de funcionamento da banda, faleceu? Foi depois das viagens à Índia, ou logo quando os shows ao vivo foram cortados? Será que só o fato de Paul ter se afastado declara o fim da banda? E quando foi Ringo? E quando foi George? E quando foi John, fundador do grupo?
Só porque Let It Be é o último álbum de estúdio significa que ele determina o fim de tudo? E as músicas “póstumas” lançadas para o documentário The Beatles Anthology? É possível, então, argumentar que os Beatles acabaram de fato em dezembro de 1980, com o trágico assassinato de John Lennon, impedindo de vez uma reunião efetiva da banda. Sendo assim, onde entra, então, Now and Then, música lançada em 2023 que permitiu, com o uso de tecnologias, uma última performance de Lennon e McCartney?
O que se quer dizer, então, com todo esse papo de “fim dos Beatles”? A separação realmente foi um fim?
A resposta para isso está, como diriam os próprios, “aqui, ali e em todo lugar”. Basta olhar para a quantidade de pessoas que sonham em atravessar uma simples faixa de pedestres em Londres; quantas playlists de amor contém Something; quantas pessoas apresentam suas crianças ao Submarino Amarelo; quantas técnicas de gravação, que funcionam como bases para a música pop atual, não existiriam sem eles; quantos vídeos no TikTok têm Eleanor Rigby de fundo, mesmo que os autores desses vídeos nem saibam que essa música é dos Beatles – a música mais regravada do mundo inteiro é deles!
Os Beatles não acabaram do dia para a noite; seu legado continua vivo e presente entre nós – muitas vezes, em lugares onde nem esperamos encontrá-los. Desde os anos 1960, os Beatles vêm mudando o mundo, e não pretendem parar tão cedo. Nas palavras de Brian Epstein: “Não há nenhuma banda como eles, e nunca haverá, em toda a eternidade. Eu garanto, aqui, em 1965, que as crianças do ano 2000 ainda estarão ouvindo os Beatles”.
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