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OSCAR 2022


Amor, Sublime Amor

por André Rhinow

(Fonte da imagem: Rolling Stone - UOL)


Remakes são sempre um negócio bastante arriscado. A comparação com a obra de origem é inevitável, e é muito raro que um filme desse tipo seja capaz de oferecer algo novo (e de qualidade) que desenvolva o original e que consiga se sustentar pelos seus próprios méritos. Amor, Sublime Amor, de Steven Spielberg, é um desses casos. Um remake do clássico musical de 1961, que levou 10 estatuetas do Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz Coadjuvante para Rita Moreno, a história é uma releitura da peça Romeu e Julieta de William Shakespeare, mas se passa na região do West Side de Nova York nos anos 50. Ao invés de Montéquios e Capuletos, temos a disputa entre duas gangues rivais, os Jets (brancos, descendentes de europeus) e os Sharks (imigrantes porto-riquenhos), todos de classe trabalhadora.


É nesse contexto de convulsão social e violência que Tony (antigo membro dos Jets, personagem de Ansel Elgort no remake) e Maria (irmã do líder dos Sharks, interpretada por Rachel Zegler no remake) se apaixonam. Mas quem mais transborda carisma — e rouba a cena — é Anita, namorada do irmão de Maria, vivida por Rita Moreno no original e Ariana DeBose, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, na versão de 2021. O novo elenco, de maneira geral, é excelente, especialmente considerando a intrincada coreografia dos números e a capacidade vocal que as maravilhosas músicas de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim demandam. Uma exceção importante aqui é a escolha infeliz de Ansel Elgort para o papel principal, acusado de abuso sexual quando o filme já estava em pós-produção, o que certamente foi um fator na fraca bilheteria.


As questões sociais e raciais, embora presentes no filme original, inclusive de forma bastante marcada considerando o ano em que foi feito, são abordadas de forma muito mais contundente nessa versão. O favoritismo da polícia em relação aos Jets é mais visível, bem como as outras desigualdades que envolvem os dois grupos. Também houve um esforço muito maior para escalar atores porto-riquenhos para os Sharks (no filme original, a única porto-riquenha era Rita Moreno). É visível a devoção de Spielberg para com o filme original, e esse é um dos fatores que contribuiu para o sucesso do remake em termos de qualidade. Respeitando esse legado, atualizando aspectos importantes e não tentando reinventar a roda ou mesmo superar o clássico, o diretor criou uma obra-prima, infelizmente, subestimada. Embora não esteja mais nos cinemas, vale a pena assistir o filme no Disney+.



Belfast (2022)

por Beatriz Bernardi

(Fonte da Imagem: Plano Crítico)


O filme dirigido por Kenneth Branagh (Gilderoy Lockhart em Harry Potter e a Câmara Secreta e Hercule Poirot em Assassinato no Expresso do Oriente) nos mostra a vida de Buddy (Jude Hill), um menino norte-irlandês nascido e criado na cidade de Belfast. Acompanhamos, pela perspectiva do garoto, a disputa dentro da Irlanda do Norte entre a comunidade nacionalista ou republicana (composta por pessoas geralmente católicas que se identificavam como irlandesas) e a comunidade unionista ou lealista (cujos membros se identificavam como britânicos e eram, em grande medida, protestantes). O longa começa no ano de 1969 e o complexo contexto histórico é apresentado de maneira sutil, através das rádios e televisões, dentro do próprio filme. Assim, o diretor provoca, especialmente em espectadores leigos em relação à história norte-irlandesa, a mesma confusão sentida pelo protagonista de nove anos de idade. Em um momento, crianças felizes jogando futebol nas ruas. Instantes depois, barricadas, bombas e gritos nos mesmos locais.


Com ou sem conhecimento prévio acerca da história da Irlanda do Norte, vale a pena conferir Belfast. É uma obra primorosa que traz boas lembranças de Oscars passados: Buddy lembra muito Totó (Salvatore Cascio), de Cinema Paradiso (vencedor na categoria Melhor Filme Estrangeiro, em 1990). Ambos os garotos são apaixonados por cinema e inspirados pela figura de um avô (de sangue, no caso de Buddy, e de consideração, no caso de Totó). Buddy vive as revoltas de 1969 em Belfast, na Irlanda do Norte, enquanto Totó vive o período pós Segunda Guerra em uma pequena cidade da Sicília, na Itália. Os dois longas transmitem um tom autobiográfico: Branagh é, como Buddy, protestante, nascido em Belfast, nos anos 60. Giuseppe Tornatore (diretor de Cinema Paradiso) teve, como Totó, um avô de consideração que era projecionista (Mimmo Pintacuda) e também nasceu em uma pequena cidade da Sicília. Os filmes também são brilhantes em suas trilhas sonoras, que foram escolhidas de forma a valorizar compositores dos locais em que se passam: Cinema Paradiso com o italiano Ennio Morricone e Belfast com o norte-irlandês Van Morrison.


Assistir a Belfast nos cinemas foi uma ótima experiência, que ficou melhor ainda quando voltei para casa e reassisti a Cinema Paradiso (disponível no Youtube).



Duna (2021)

por André Rhinow

(Fonte da imagem: Rolling Stone - UOL)


Duna é o mais novo filme do aclamado diretor Denis Villeneuve, que dirigiu também Arrival (2016) e Blade Runner 2049 (2017). É uma empreitada monumental, chegando a um ponto em que chamá-la de filme não faz jus nem ao escopo nem ao tamanho da obra, tanto em termos de duração, quanto a respeito de seus visuais estarrecedores e sua trilha sonora épica, assinada por Hans Zimmer. Com um estilo visual bastante distinto, atuações competentes e trama envolvente, o longa não decepciona e cria uma base sólida a ser desenvolvida pelos próximos filmes da saga. No filme, acompanhamos a saga de Paul Atreides (Timothée Chalamet) no inóspito planeta Arrakis, onde sua família foi enviada para se tornar o equivalente (nesse futuro distante) a senhores feudais do local. Recheado de intrigas políticas, ambientes hostis e reviravoltas, Duna é um prato cheio para fãs de ficção científica. Antes considerado inadaptável — ainda mais depois de uma tentativa bastante mal recebida em 1984 por David Lynch —, o clássico romance de Frank Herbert encontra sua versão definitiva no filme estrelado por Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson e Oscar Isaac.



Licorice Pizza (2021)

por João Pedro Fernandes

(Fonte da imagem: Revista Claudia - Abril)


Licorice Pizza não é a primeira ocasião em que o diretor Paul Thomas Anderson explora a Califórnia, sua terra natal, mas certamente é a mais prazerosa. Desta vez, o foco está em Alana Kane e Gary Valentine, dois jovens que se conhecem, se descobrem e se apaixonam na Los Angeles dos anos 70. A dupla é interpretada pelos estreantes Alana Haim (guitarrista do trio HAIM, com suas duas irmãs) e Cooper Hoffman (filho de Phillip Seymour Hoffman, ator já falecido e constante presença nos filmes de Paul Thomas Anderson), e estes brilhantemente povoam suas personagens com as mais variadas nuances, do amor ao ódio à amizade. PTA, como é conhecido o diretor americano, é muito feliz em centralizar o filme na relação dos dois, mas ao mesmo tempo concebendo um riquíssimo mundo ao redor deles, nas tenras texturas da nostalgia daquela época, em suas músicas, roupas e lugares.



Spencer (2020)

por Beatriz Nassar

(Fonte da imagem: Rolling Stone - UOL)


Spencer é o segundo filme do diretor chileno Pablo Larraín que trata de uma mulher da política do século XX, sendo Jackie (2016) o primeiro. A obra reconta a vida de Diana Spencer, princesa de Gales, durante os três dias entre a véspera de Natal do ano de 1991 e o Boxing Day, feriado inglês que é comemorado um dia após o Natal. Interpretada por Kristen Stewart, Lady Di é retratada em momentos de grande vulnerabilidade que perpassam desde a deterioração de seu casamento com o Príncipe CharlesDuque de Rothesay, até a sua dolorosa experiência com a bulimia. Mais do que um retrato hiperbólico da vida conturbada da princesa, Spencer é um suspense psicológico que destaca a paranoia e o sofrimento por trás de roupas bonitas, colares de pérola e do glamour da Casa de Windsor.



Revisão: Bruna Ballestero

Imagem de capa: Sofia Azzam

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