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PAI NOSSO



Em meu nome,

De filha para pai e todos os santos,

Eu lhes rezo:

Não tenho fé. Fé alguma. Me disseram que este é o problema.

Por isso, meu pai, te rezo. Suplico por uma fé.

Como hei de crer se tudo de mim foi tomado? Aos onze me vi sem chão. Quase sem teto — digo, afeto. Perdi minha referência de mulher. Me foi tirada a referência de passado logo menos. Já não tinha ancestralidade nem maternidade. Tão cedo fiquei sem lar. Me tiraram tudo, meu pai. Logo aos onze. Como hei de crer? Em ti ou, quem sabe, em mim?

Me arde o peito, pai, não ter clareza do passado. Sinto falta da minha infância. Temo pela vida adulta. Me resta uma adolescência vazia de sentido. Disseram que a fé me traria luz.

Cresci sozinha, pai, com medo da solidão. Nunca fui querida, sequer fui escolhida. Minha vida foi rumo ao acaso. Cresci sozinha e senti quando a solidão me invadiu. Me disseram que com o senhor eu nunca estaria só.

Meu pai, se a fé é a solução, eu suplico. Muito lutei, contra mim e contra o acaso. Como hei de ter fé se o destino me leva àa ruína? Senhor, dono do meu destino, me ajude a crer em ti. Por que não fui acolhida? Eu era uma criança. Desamparada. Queria ser cuidada, pai. Ter um colo. Disseram que no lar do senhor nada me faltaria. Como hei de ter fé alguma?

Pai, como eu poderia confiar em você se minha essência te causa repulsa? Sou parte tua, como criatura e criador. De onde vem tanto ódio? Sinto muito por não ser quem você esperava.

Passamos por tanto, pai. Quando precisei de carinho ouvi que me faltava fé. Tem razão, pai. Perdi minha fé. Não acredito em coisa alguma. Em você ou em mim. Afinal, como poderia? Se meu progenitor, que me criou, me conhece como ninguém e me ama incondicionalmente, não tem fé em mim, como eu haveria de ter? É que meu progenitor não me criou, não me conhece e não me ama incondicionalmente. Perdi a fé em ti.

Me lembro de tudo, pai. Tuas palavras têm peso. Lembro de cada desdém, de cada vez que duvidei da minha sanidade, do dito e do não dito. É óbvio que eu ouvi errado. Talvez, tenha feito de menos. Lembro de tudo. Tuas palavras têm peso. Realmente é falta de fé.

Por isso eu rezo,

Em meu nome

Pelos pais de filhos,

Peço a todos os santos

Rogue por esses pecadores, que de tanto buscar a fé se desvirtuaram. Me ajude, entidade divina que for, a encontrar a fé em mim, e quem sabe, no pai. Peço, como filha, que não se afoguem em seus próprios pecados. Meu pai, que estás na terra, eu santifiquei teu nome e sempre cedo às tuas vontades. Perdoe as minhas ofensas, porque eu luto por perdoá-lo por me ter ofendido. Não se deixe levar pela escuridão. Na hora de vossa morte, não sinta pesar pelo que foi feito em vida.


Amém


Autoria: Ana Luísa Issy

Revisão: Gabriela Veit e Anna Cecília Serrano

Imagem: Pinterest


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