Tanta coisa para ver,
Gente para conhecer,
Abraço para abraçar.
Tanta tarefa para concluir,
Prazo para cumprir,
Agenda para programar.
Entre prazos e formigamento nos braços,
Só sei produzir atrasos.
É para ontem, no hoje;
Não existe amanhã.
Preciso aguentar o tranco,
Preciso seguir sã.
Quero ver, tocar, explorar,
Sentir, expressar, manifestar.
Mas preciso entregar, terminar. Prontidão;
Preciso me demorar em tarefas sem motivação.
Entre prazos e formigamento nos braços,
Só sei produzir atrasos.
18 páginas para ler,
8 provas para estudar.
1 vida para viver,
88 cursos que eu queria realizar.
Uma vida da qual eu queria me aposentar.
Só para ter tempo de observar os pássaros,
E explorar as obras de arte,
E colocar no mundo minha ideia mais criativa.
188 sonhos que eu queria sonhar.
Entre prazos e formigamento nos braços,
Só sei produzir atrasos.
Então, eu me inscrevo em dezenas de cursos,
Entrego a maioria das tarefas.
Vivo no automático
Em busca do que eles chamam de acaso planejado.
Vai que no meio dessa (vida),
Eu encontro algum motivo para começar (a viver).
Quem sabe, essa tal de rotina produtiva
Um dia me libera algum escape para crer.
Enquanto sigo:
Busco o novo,
Fujo do velho,
(Re)conheço o mesmo.
É que parece mais fácil do que me aprofundar no incerto.
Enquanto produzo,
Minha cabeça fica nos pássaros.
Nas obras de arte que ainda não entendi
E nos poemas tão grandes que nunca concluí.
Atraso as provas e tarefas;
Desculpe, faculdade, é que eu tenho pressa de ser.
Não posso estar atrasada para o meu tempo.
Hipocrisia, paradoxo,
Poesia.
Eu não quero ficar para trás,
Mas cada dia minha sanidade jaz.
Entre prazos e formigamento nos braços,
Eu desligo o computador e vou dormir.
Não pode haver prazo apertado demais
que me faça desistir
de mim.
Eu desisto dos prazos para continuar aqui.
Autoria: Ana Cristina Rodrigues Henrique
Revisão: Anna Cecília Serrano e André Rhinow
Imagem de capa: Print do bloco de notas com edição da autora
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