- Olá, como vai?
- Eu vou indo, e você, tudo bem?
- Tudo bem, eu vou indo correndo Pegar meu lugar no futuro, e você?
- Tudo bem, eu vou indo em busca De um sono tranquilo, quem sabe?
Sinal Fechado, Paulinho da Viola
É 7:30 da manhã, uma segunda-feira. Acabo de entrar na estação. Em um movimento seguro e quase autônomo, meus pés rumam ao vagão mais próximo. Passo agitado, deslocamentos pouco expressivos, passadas largas e banais. Todos os passageiros com um semblante carregado, um arquejo reprimido. Quase como uma regra implícita, o lugar se faz de olhares ansiosos, apontados para um futuro próximo. Uma apreensão implacável que direciona a atenção de todos para a semana seguinte. A pressa paira no ar como uma norma vulgar e, sem grandes questionamentos, eu incorporo a ligeireza em meu caminhar. Movimentos e manobras de prontidão, afinal, todos querem ganhar tempo. Inevitavelmente, também tenho pressa. A pressa é implacável e nem mesmo o trem escapa dessa norma. Em poucos instantes, os 6 vagões tornam a vociferar impacientemente anunciando a partida.
Desço em outra estação às 7:50 da manhã. Subo pela fileira esquerda das escadas na baldeação. Alternadamente, meus pés ligeiros atacam os degraus das escadas. Cesso abruptamente meus passos para aguardar o outro trem. A impaciência parece irrevogável durante os 3 minutos que separam os veículos de uma mesma linha. Em postura de urgência, todos seguem o mesmo roteiro: esperar os vagões se estagnarem e as portas se abrirem. Esperar todos saírem do vagão, para então atabalhoá-lo novamente com passageiros errantes. Buscando um lugar no trem, buscando um lugar no futuro. Por isso a pressa: não se pode perder tempo ou a vaga logo será ocupada. Assim como todos ao meu redor, espero ansiosamente pelo próximo trem. Nem sei por que tenho pressa, não estou atrasado. Gasto os preciosos minutos conquistados no meu dia de forma fútil, quase desdenhosa. Da mesma forma que não quero perder tempo, não entendo por que quero ganhá-lo. Decerto, não farei bom uso. Gastarei com banalidades, caprichos e frivolidades. Preciosos minutos despendidos em redes sociais, músicas já conhecidas ou novos conhecimentos que de nada me servem. Em último caso, gastarei esse tempo para pensar, sem sucesso, no que devo fazer nos próximos 5 ou 10 anos.
Como resposta a uma súplica coletiva, o trem chega à estação. Nesses momentos de desespero, a pressa não parece nada menos do que imperiosa, uma crueldade normativa e internalizada. Se quero me transportar, espero 3 minutos. Se quero conversar, aperto um botão. Tudo ruma para a economia de tempo. Ainda assim, sentimos mais e mais angústia com o tiquetaquear do relógio. Uma simples vaga no futuro exige tanto, o mínimo parece cada vez mais inalcançável. Todos os 3 minutos de espera parecem muito para buscar um lugar já reservado para alguns.
Saio da estação um pouco depois das oito e subo as escadas com afinco. No meu entorno, irrompe barulhos de passos apressados e sons maquinais da avenida. A atmosfera composta de apreensão e ligeireza da estação é substituída por outra de mesma natureza. Saio da estação, mas a pressa continua e tento ganhar tempo. Chego na faculdade às 8:10. Minha aula só começa às 9:00.
Autoria: Giovanni Tortorella
Revisão: Artur Santilli e Laura Freitas
Imagem da capa: Pintura sem título, de Daniel Celentano
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