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PROFESSORES NEGROS

No Espaço Aberto de hoje, a Gazeta Vargas traz um texto anônimo de um aluno da FGV a respeito da recente mobilização dos alunos sobre a falta de professores negros na Fundação. Venha ler para entender mais.

Vim falar sobre um post do DAGV que trouxe uma pauta muito cara à FGV: o racismo estrutural da sociedade que a gente vive. Finalmente trazendo o debate para a Fundação, sem ser pela nota de repúdio. Só me incomoda o jeito que isso é posto. Uma estatística, jogada, que parece, pelo menos ao meu ver, jogar a culpa de um problema muito mais grave na política de contrato da GV. "Você sabia que menos de 1,1% dos professores da FGV são negros?" Colocar a Fundação como causa desse efeito, como se rolasse um racismo institucional na GV, pra mim parece no mínimo miopia. Vamos olhar para o mercado de professores. Para ser professor, você precisa se formar em uma graduação. Olhando pra um recorte geral, já temos uma disparidade entre negros e brancos com diploma de graduação. Até aí, nada que justifique os 1,1%. Então vamos adiante, olhar para as pessoas que, terminada a graduação, optam por fazer uma pós, ou ainda, um mestrado. O número de pretos já começa a decrescer absurdamente, muito provavelmente resultado de prioridades e restrições, como trabalhar para pra trazer renda para a família, que restringem a quantidade de educação que a pessoa preta pode buscar. Isso, obviamente, é resultado histórico das marginalização dos pretos, da diferença de renda, e de todo o racismo estrutural que se passa no Brasil. Vamos continuar: se olharmos para dados sobre doutorado, essa estatística cai ainda mais. Não sei a política da EAESP, mas sei que a EESP só contrata doutores ou doutorandos. Logo, o mercado de professores da EESP é extremamente restrito pela oferta de professores que atendem ao currículo que a Fundação exige. Isso não porque a Fundação exige que eles sejam brancos via uma política institucional racista, e sim por conta de uma política que busca trazer os professores com melhor currículo. Eu suponho também que, fora o recorte que acontece por conta do mestrado/doutorado, também rola um viés dos negros na escolha de profissão que desejam ter na própria graduação. Existe dado estatístico disso, mas não sei bem ao certo pra afirmar se as profissões que a Fundação escolhe para serem os docentes são aquelas menos escolhidas pelos negros para eles seguirem. Novamente, para economia, consigo afirmar que sim. E por fim, vamos olhar para as ações afirmativas: elas foram instituídas no país em 2012 em grande escala. Não se é de esperar que já existam pessoas, que felizmente graças a elas, já atingiram o currículo que a FGV exige de seus docentes. Perante esses dados, eu acho que é simplesmente bizarro exigir que a GV componha seu quadro de professores com mais negros, se a oferta dos mesmos no mercado de trabalho é restrita. Ok, precisamos falar de racismo, mas a porcentagem de professores da GV é causa ou consequência dele? Tratar o tema já com uma postura combativa, culpando uma política que busca trazer o melhor pro alunato é fechar os olhos para um problema muito mais grave na sociedade. Estou aberto para trocar uma ideia, mas confesso que não me senti a vontade de escrever isso fora do anonimato, porque parece que, pela postura lacradora de muitos, nem iriam pensar em todos os pontos que expus.

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