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RELATO DE UM DIA NO THE TOWN



Na cidade que já abriga Lollapalooza, MITA Festival e Primavera Sound, mais um festival de música não pareceu demais para os idealizadores e realizadores do Rock in Rio, que trouxeram pela primeira vez seu irmão mais novo para São Paulo. O The Town tomou conta do Autódromo de Interlagos nos dias 2, 3, 7, 9 e 10 de setembro e contou com muitas críticas por parte do público.


Como alguém que esteve apenas no dia de encerramento do festival, foi difícil entender os muitos comentários negativos que se ouviram nos primeiros dias sobre a chegada em Interlagos. É claro, não caiu o mundo e não houve “falhas de energia” na linha de trem que levava ao festival, o que atrasou a chegada de muitos. A entrada e saída do festival foram muito tranquilas, sem problema algum para quem foi pela Linha 9 – Esmeralda e andou até o portão 2 para entrar. É possível que a desorganização percebida nos primeiros dias tenha sido fruto de fatores que estavam fora do controle da organização. Sobre o transporte, vale dizer que não existe nenhuma justificativa possível para entender as razões pelas quais os serviços semi-expresso e expresso existem. A ida pelo meio convencional, utilizando o trem da Linha 9, foi muito eficiente, não sendo possível imaginar o porquê do serviço semi-expresso custar 10 vezes mais.


Após passar pelo portão, os habituados com o Lolla (impossível não comparar os dois eventos) logo percebem uma baita diferença na disposição de tudo. Pareceu-me pretensioso e um pouco rebelde um festival que acaba de colocar os pés em São Paulo acreditar que poderia dispor os palcos, banheiros, quiosques de alimentação e bebida de uma maneira mais eficaz que o festival que acontece há 9 anos no Autódromo. A meu ver, não funcionou.


Como os dois palcos principais são muito próximos, apenas um artista se apresenta por vez, não havendo nunca dois shows simultâneos nestes palcos. Assim, o público não se dilui em mais de uma atração, ficando sempre concentrado no palco em que alguém está tocando. Dessa forma, sempre que acaba um show, fica um "ping pong" de 100 mil pessoas indo de um palco ao outro, tendo que andar por uma passagem bem estreita. Quando se chega ao palco de destino, 10, 15 ou 20 minutos do show já se passaram, porque os 5 minutos de intervalo não são suficientes para se deslocar em meio à multidão.


A tentativa de diminuir a distância entre os palcos, comparado ao Lolla, foi perfeitamente válida, já que nesse a distância entre eles chega a 2,5 km. Mas, ao menos, no festival que chegou ao Brasil em 2012, os pontos de alimentação ficam no caminho ou próximos ao palco, enquanto no estreante, a caminhada para conseguir algum tipo de alimento era quase tão intensa quanto chegar de um palco ao outro no Lollapalooza. Além disso, alguns dos pontos de alimentação eram muito pequenos para um público de 100 mil pessoas: eram poucos, e apenas o McDonald’s era grande o suficiente para ter um atendimento rápido.


Apesar da localização ruim dos pontos de alimentação, o grande elogio que o festival merece é com relação aos banheiros. Eram muitos, espalhados por bons pontos, com pouca fila e com uma estrutura bem melhor que os habituais banheiros químicos.


Sobre o lineup, prefiro falar apenas dos shows que vi. O primeiro show a que assisti foi o da Iza. Foi um showzaço. Com uma equipe incrível de dançarinos e dançarinas, a cantora carioca arrasou na performance e demonstrou um carisma impressionante. Trouxe convidados memoráveis - L7, MC Carol e Djonga - e demonstrou estar traçando um caminho próprio e muito bonito na música brasileira.


Infelizmente não consegui ir até o show da Pabllo Vittar. Chegando perto do palco onde ela tocou - o The One - o trânsito de pessoas estava muito intenso e pensei que seria melhor ficar no palco onde, 23h, pontualmente, subiria o “Bruninho”. Logo mais entrou no palco principal a primeira cantora trans a chegar no topo das paradas mundiais com “Unholy”. Infelizmente, Kim Petras entregou um show pouco animado e mexeu pouco com o público. Nem mesmo seu maior sucesso, em parceria com Sam Smith, foi capaz de animar as pessoas que estavam ali. É claro que o desafio era muito grande, afinal, muitos só estavam esperando a atração principal subir.


Para aquecer o palco para Bruno Mars, H.E.R cantou alguns de seus maiores sucessos. Ao contrário do que fez Kim Petras, a cantora californiana emocionou o público, foi muito carismática e fez todo mundo cantar até algumas músicas que não eram muito conhecidas. Como? Ela simplesmente ensinou como cantar o refrão de “Hard Place” e colocou todos para cantar com ela, além de ter emendado os sucessos “We will rock you” e “I love rock’n roll” em uma música própria. Foi um show incrível, cheio de personalidade.


Outro show que doeu o coração de perder foi o do Jão, que foi muito elogiado. Infelizmente, o cantor sofreu com o final do show, vendo grande parte do público deixar o palco The One para ver a voz de “When I was your man” subir no Skyline. Bruno Mars entregou um dos melhores shows que já vi na minha vida. O público não desconhecia nenhuma letra de nenhuma música. O havaiano dançou, cantou (sem backing vocal por sinal) e apresentou um show recheado de hits de sua carreira. A edição de 2023 do The Town não poderia ter contado com um show melhor para encerrar. Mesmo com as pernas doídas depois de mais de 12 horas em pé, Bruninho colocou uma multidão de 100 mil pessoas para dançar, cantar, pular e se emocionar com toda uma carreira marcada por grandes músicas.


Autoria: Gustavo Dias

Revisão: Laura Freitas e André Rhinow

Imagem de capa: Autoral


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