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OSCAR 2021 EM RESENHAS





The Trial of the Chicago 7

Lançado em 2020 e distribuído pela Netflix, o drama "Os 7 de Chicago" acompanha o julgamento de sete ativistas políticos na década de 60 nos Estados Unidos, época marcada pelas manifestações contra a guerra do Vietnã. Com roteiro e direção de Aaron Sorkin ( "A Rede Social "), o longa expõe a instabilidade política e social do período de forma acelerada e cheia de reviravoltas, capaz de prender a atenção do espectador. Nomes como Sasha Baron Cohen, Eddie Redmayne e Yahya Abdul-Mateen II, que interpreta Bobby Seale, co-fundador do Partido dos Panteras Negras, compõem o elenco. O filme está indicado ao Oscar para diversas categorias como Melhor filme, Melhor Roteiro Original e Melhor Ator Coadjuvante (Sasha Baron Cohen). O longa, que foi aplaudido pela crítica, é com certeza uma das grandes apostas da premiação, sendo considerado um dos favoritos para as categorias principais.

Juliana Nahas




Ma Rainey’s Black Bottom

Após a triste e inesperada morte do ator Chadwick Boseman em 2020, em decorrência da sua luta contra o câncer, fomos presenteados com um dos seus últimos filmes gravados: "Ma Rainey's Black Bottom". O longa, dirigido por George C. Wolfe, acompanha a história de um grupo de blues em Chicago na década de 20, época em que o estilo musical estava em ascensão. O grande enfoque do filme está em seu elenco, que além de ter Chadwick no papel de um trompetista ambicioso, conta com nomes como o de Viola Davis, que representa a vocalista Ma Rainey, considerada a mãe do blues. Ambos os intérpretes estão indicados para as categorias principais: Melhor Ator e Melhor Atriz. O show de interpretação de Boseman deixa em nós um sentimento de saudade e luto em relação àquele que, em sua carreira, foi capaz de tocar e inspirar incontáveis vidas.

Juliana Nahas




Druk

Druk é um filme duro. É o que tem que ser. Algumas coisas vivem nas entrelinhas de nossas vidas, enquanto outras são capazes de destruí-las. Costumamos atribuir nossos fracassos a outras coisas dispersas e mais óbvias, desenvolvendo, consequentemente, a mania de banalizar qualquer coisa que outrora é boa, outrora é ruim. Assim acontece com a cultura do álcool. Alguns percebem isso a tempo, evitando precocemente que o processo se inicie, outros deixam a cargo do destino - com toda a sua aleatoriedade - decidir qual será o fim. Mais verossímil com o Brasil do que se possa imaginar, é a partir dessa visão, que o longa dinamarquês, indicado à categoria de melhor direção, encara o subliminar alcoolismo presente nas sociedades.

Gabriel Linares




Soul

A animação Soul de 2020 da Pixar narra a história de Joe, um pianista de jazz em Nova Iorque insatisfeito com a sua vida de professor que tenta seguir sua carreira dos sonhos de músico profissional. Joe consegue uma audição em um clube de jazz, e acaba sendo chamado para tocar com a famosa saxofonista Dorothea Williams. Porém, ao sair do local, acaba sofrendo um acidente e entrando em coma, e seu espírito é mandado para o pós-vida (The Great Beyond). Inconformado, tenta fugir do seu destino e chega no pré-vida(The Great Before), onde as almas recém-criadas recebem uma personalidade e descobrem os interesses. Na pré-vida, Joe conhece 22, uma alma que nunca descobriu os interesses. Os dois tentam descobrir a vocação de 22 e buscam uma maneira de regressar Joe na Terra. Esse percurso os faz aprender sobre o propósito da vida e ao que devem dar valor. Com uma trilha musical e história cativante, Soul toca em assuntos importantes, como materialismo, com bastante humor.

Stella Passarella




Mank

O filme dos anos 1940s Cidadão Kane é considerado um dos maiores filmes de todos os tempos e foi um grande indicado ao Oscar no ano 1942, levando o prêmio de melhor roteiro original. Apesar de não ter levado o devido crédito, o grande responsável pela estatueta foi Herman J. Mankiewicz, ou Mank, o protagonista do filme de mesmo nome que hoje concorre ao prêmio de melhor filme. Produzido e distribuído pela plataforma de streaming Netflix, Mank retrata todo o processo que levou Herman a finalmente escrever seu grande filme. São 2 horas de plena metalinguagem e questionamentos sobre o cenário político, econômico e social do mundo, mas principalmente dos Estados Unidos, na década de 30 e 40. O longa traz também a temática da dependência do álcool e como o alcoolismo ajudou a levar Mank ao seu declínio. Concorrendo a 10 categorias, Mank faz com que os telespectadores entendam de onde sua inspiração à criação do roteiro veio e, mesmo sendo em preto e branco, as emoções por ele sentidas não se perdem. Mank é um filme ideal se você se interessar por cinema e pelos processos que um filme passa até chegar ao público; claramente é uma ótima opção.

Caio Zanette




Borat Subsequent Moviefilm

Borat está de volta. 14 anos depois do primeiro filme, o ficcional jornalista cazaque, interpretado por Sacha Baron Cohen, novamente viaja para os Estados Unidos, dessa vez para oferecer sua filha Tutar (Maria Bakalova) como noiva para o ex-vice presidente americano Mike Pence. Assim como no primeiro filme, há a pretensão de denunciar e satirizar a ignorância e os preconceitos do americano mediano, mas, dessa vez, com um foco mais específico no ex-presidente Donald Trump e seus apoiadores.


Indicado ao Oscar em melhor roteiro adaptado, a trama trata da questão da pandemia do COVID-19, que, naturalmente, torna-se o tema de muitas piadas. Porém, aqui se perde um pouco do brilho do anterior, visto que o humor de algumas piadas e situações não funcionam como funcionaram no primeiro filme. Em contrapartida, a adição de sua filha à trama se prova benéfica ao filme, pois amarra a história em um núcleo emocional da relação pai e filha que se equilibra com o tom anárquico e ininterrupto da comédia, e dá espaço para a atuação magnífica da atriz búlgara Maria Bakalova, indicada ao Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante. Mesmo com alguns problemas,"Borat: Fita de Cinema Seguinte" consegue arrancar risadas ao mesmo tempo que mostra êxito em observar (e satirizar) a realidade social americana.

João Pedro Fernandes




If Anything happens I Love You

Concorrendo ao prêmio de melhor curta de animação, If Anything Happens I Love You provoca fortes emoções e consegue denunciar o problema estrutural dos Estados Unidos em relação às armas sem dizer uma palavra sequer. A animação, disponível no Netflix, apresenta a história de um casal cinza que sofre pelo luto de sua filha. Mesmo com a técnica de stopmotion e desenhos simples, o curta não dispensa emoções. Ao longo dos 12 minutos de duração, o casal sem nome relembra diversos momentos que passaram junto à sua filha, que atribuía cores aos seus mundos, inclusive passando pelo dia em que a menina morreu. No curta, acompanhamos com bastante apreensão todo o percurso da garotinha até a sua escola, onde ela e outros 356 estudantes são vítimas de um terrível tiroteio, um problema que se instaurou na sociedade estadunidense já há anos. If Anything Happens I Love You tem o poder de nos emocionar e de criar um nó em nossas gargantas sem mesmo um diálogo; com certeza é um filme que precisa ser visto.

Caio Zanette



Quo vadis, Aida?

Representando o cinema bósnio, Quo vadis, Aida? questiona sem meias palavras a atuação das Nações Unidas na prevenção do genocídio durante a guerra da Bósnia. Dirigido e escrito por Jasmila Žbanić, o longa-metragem concorre ao prêmio de melhor filme estrangeiro e conta a história de Aida, uma mulher bósnia que trabalha como tradutora nas instalações da ONU na cidade de Srebrenica. O filme retrata com elementos fictícios, mas com fatos reais, a história do Massacre de Srebrenica de 1995, genocídio que foi o maior crime de guerra cometido na Europa depois da 2a Guerra Mundial. O enredo gira em torno da chegada das tropas sérvias à cidade de Srebrenica, fazendo com que centenas de pessoas fossem procurar auxílio na base internacional, incluindo a família da protagonista. No entanto, a omissa e irresponsável atuação da missão que deveria zelar pela população faz com que questionemos a verdadeira eficiência das missões internacionais de proteção. Quo vadis, Aida? provoca diversos sentimentos ao longo dos acontecimentos e é um ótimo filme para se conhecer o cinema bósnio.

Caio Zanette



Minari

O filme Minari de 2020 é um drama que conta a história de uma família coreana que chega no estado de Arkansas nos Estados Unidos em 1980 para recomeçar a vida em uma pequena fazenda. Jacob, determinado e inteligente, e sua esposa Monica se esforçam para sobreviver, e garantir a melhor vida para seus dois filhos, David e Anne, trabalhando em uma fábrica separando pintinhos pelo gênero. O objetivo de Jacob é utilizar a fazenda para plantar vegetais coreanos e vender para todas as famílias de imigrantes nos EUA, processo em que enfrenta diversas dificuldades. Enquanto os pais se esforçam, a avó materna coreana se muda para cuidar dos netos. David e a avó não se dão bem no início, mas a relação é construída durante o filme. O roteiro de Minari se destaca pelo desenvolvimento dos personagens e por abordar conflitos culturais e familiares. O filme discute imigração e a dificuldade dos estrangeiros em novos territórios.

Stella Passarella



Emma

A adaptação de 2020 do romance de Jane Austen dá vida à rotina pomposa de uma jovem aristocrata da sociedade inglesa do século XIX e levanta, com delicadeza, algumas questões do universo feminino da época. "Emma Woodhouse, bonita, inteligente, e rica" é, acima de tudo, mimada e controladora. Mesmo assim, a diretora Autumn Wilde faz um ótimo trabalho ao redimir a personagem e demonstrar que seus defeitos são parte essencial de sua humanidade, levando o público a torcer por um final feliz para a protagonista mesquinha. Com uma lindíssima paleta de cores pastéis e vestidos com silhuetas impecáveis que fielmente ilustram as tradições da época e colaboram para a construção da história, Emma é um forte concorrente às categorias de maquiagem e figurino.

Beatriz Nassar


Promising Young Woman

Promising Young Woman (Bela Vingança na tradução brasileira) é extremamente relevante às discussões contemporâneas sobre a questão de gênero. Seu título é uma crítica à expressão "ele era um jovem promissor", normalmente usada para defender homens acusados de crimes contra o sexo feminino. Fazendo referência a isso, a obra dirigida por Emerald Fennell retrata a jornada de uma jovem adulta (Cassie) que deseja se vingar dos assediadores da melhor amiga, ressaltando o efeito que experiências do tipo têm na vida de jovens promissoras. Assistir ao filme é crucial para aqueles que buscam entender as dinâmicas de poder entre homens e mulheres, pois ele ressalta como o sexo masculino ainda é favorecido por um sistema misógino.

Beatriz Nassar





Sound of Metal

Indicado em 6 categorias no Oscar (entre elas, Melhor Filme e Melhor Roteiro Original), Sound of Metal (O Som do Silêncio, na distribuição no Brasil) conta a história de um baterista que perde sua audição, e sua vida a partir disso. Desde o primeiro momento, é uma temática que se mostra complexa, mas o roteiro obtém êxito em sempre se mostrar empático à mais complexa gama de sentimentos que o protagonista experiencia durante o longa. A atuação de Riz Ahmedcomo o baterista é excelente, lidando fisicamente muito bem com os dramas do personagem, e merece muito o prêmio de Melhor Ator. Porém, não é coincidência que seja justamente no design de áudio, também indicado, na categoria de Melhor Som, que o filme mais brilhe, com os sons muitas vezes indicando que o protagonista está presenciando, mesmo na surdez absoluta, o que garante um impressionante senso de imersão ao espectador. Sound of Metal nos oferece um olhar profundo e empático à surdez de seu protagonista e é uma das histórias mais interessantes da atual temporada de premiações.

João Pedro Fernandes





My Octopus Teacher

Para José Saramago, “Todo homem é mundo”. Depois de “Meu Professor Polvo”, documentário produzido pela Netflix, é fácil compreender que não só todo homem o é, mas todo ser vivo. E é através da ótica de um simples curioso homem, o qual vive em algum lugar do Cabo das Tormentas enquanto biólogo marinho, que o longa nos faz acompanhar a linda trajetória vital de uma esquisita e tímida polvo-fêmea. Cada dia é um desafio a ser superado: do ponto de vista do polvo, sobreviver, já do homem, entender como uma criatura tão fascinante, cujos milhares de neurônios distribuem-se por todas as partes de seu corpo, é capaz de manifestar um amor ainda incompreendido e invisível a nós. “Estou começando a pensar como um polvo”, diz o agora homem-polvo com seu coração cada vez mais ampliado.

Gabriel Linares



Nomadland

Favorito para os principais prêmios da noite, melhor filme e melhor diretor, Nomadland aborda a vida dos nômades, idosos americanos que adotam uma vida em automóveis por dificuldades financeiras. A protagonista Fern, vivida por Frances McDormand, faz parte desse grupo e, durante o filme, tem contato com diferentes pessoas na mesma situação, cada uma com diferentes histórias e motivos para estarem ali. O filme não possui grandes coadjuvantes, o que não é necessariamente um problema, pois as cenas de Fern com cada um deles nos faz, com poucas palavras, entender muito mais do que está sendo dito. Nomadland brilha mesmo em momentos assim, em que podemos ver personagens conversando casualmente sobre a vida, ou apenas cenas sem diálogo acompanhadas da leve trilha sonora e de uma bela cinematografia que contribui muito para a qualidade das cenas. É um filme que discute uma cruel realidade dos EUA e que faz com que a vivência dessas pessoas seja entendida melhor.

Gustavo Sanches



Judas and the Black Messiah

Ambientado em Chicago no final dos anos 1960, Judas e o Messias Negro conta a história por trás da traição que resultou na morte de Fred Hampton, vice-presidente do Partido dos Panteras Negras na época. A trama acompanha a vida de Bill O’Neal, um criminoso que, para conseguir fugir de sua pena, faz um acordo com o FBI para se infiltrar no partido e conseguir informações sobre Hampton. O roteiro discute assuntos envolvendo raça e justiça, criando uma dúvida para o telespectador se Hampton era realmente o terrorista que o FBI acreditava. O maior destaque do filme sem dúvidas vai para Daniel Kaluuya, intérprete de Hampton, que rouba a cena sempre que está na tela. Vê-lo discursar e acompanhar seus relacionamentos com os membros dos Panteras Negras é o que faz você se interessar pelo que acontece com cada um deles e também o que faz você se revoltar com o final. Além de Kaluuya, Lakeith Stanfield, que interpreta O’Neal, também cumpre bem seu papel na história, ambos estão indicados na categoria de melhor ator coadjuvante neste ano.

Gustavo Sanches



Revisão: Letícia Fagundes

Imagem de capa: Carolina Harada



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