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SER EXATO...PRA QUÊ?

Qual o seu próximo prazo? Estamos sempre correndo atrás de datas de entrega, com pressa, o tempo sempre passa rápido, e nunca fazemos o que gostamos... O texto de hoje é nossa redatora Isabella Grimaldi!

mais ou menos em ponto

Paulo Leminski


(...)

Condenado a ser exato

por um tempo escasso,

um tempo sem tempo

como se fosse o espaço,

exato me surpreendo,

losango, metro, compasso,

o que não quero, querendo.


Todo dia, o dia todo, estamos pensando no que temos que fazer, para qual dia temos que fazer, como temos que fazer. Mas nunca nos perguntamos o porquê de termos que fazer aquilo que está atormentando a nossa calma. A verdade é que a gente nem pensa nisso, só estamos condicionados a fazer o que mandam a gente fazer, no prazo que mandam e da forma que falam. Nós não temos nem tempo de buscar os motivos, porque sempre estamos com pressa, na pressa, com pressa da pressa, fugindo da nossa própria pressa. Na vida contemporânea, há um fenômeno chamado de hiperatenção. Esse tipo de atenção se caracteriza por uma rápida mudança de foco entre diversas atividades e fontes de informação, sem dar o tempo necessário para a atenção se tornar profunda e focada em um único ponto. Isso está ligado à aversão do ser humano ao tédio e a qualquer coisa mais concreta e menos imediatista. A sociedade contemporânea nos obrigou, ou ensinou, a ser assim e, agora, o nosso tempo escasso, mas as nossas tarefas são infinitas. Houve uma inversão?


Somos obrigados, dia após a dia, a sermos exatos. Exatos em tudo que fazemos, em tudo que falamos, até no que sentimos. Demonstrar sentimento é um erro, falar sobre o que está incomodando é sinal de fraqueza, cometer pequenos erros quase não é permitido. Diante de tantos “nãos”, em um universo que poderia ter tantos “sins”, nos vemos acostumados a querer coisas que nem queremos..., mas a gente passa a querer quando dizem que tal ambição ou desejo é o certo. Certo, exato... Lá vêm os termos que aprisionam, que prendem o indivíduo dentro de um mundo de fazeres e não fazeres que não é seu. Que não é de ninguém, mas de todos ao mesmo tempo. De todos porque é mundo imposto: imposto pela sociedade, imposto pelas instituições, imposto pelas obrigações e pelas dívidas. Um mundo impostor. Impostor porque é falso, utópico... ou distópico? Ninguém quer dormir 3 horas por noite, ninguém quer ter crise de ansiedade, ninguém quer virar a noite estudando, ninguém quer trabalhar 12 horas por dia, ninguém quer almoçar em 10 minutos, ninguém quer perder as coisas mais belas e simples da vida. Mas todo mundo faz!


Todo mundo faz porque todo mundo faz. Se ninguém fizesse, as imposições não teriam força e cada um poderia viver do seu jeito, no seu tempo, sem pressa, sem exatidão. Poderíamos viver com os nossos erros (e não nos culpar tanto por eles!), num tempo calmo, de passeio. Vivendo e não sobrevivendo. Vivendo do nosso jeito, querendo o que a gente realmente quer. Essa não é a realidade. Sempre estaremos condicionados ao modo como a sociedade e as relações interpessoais estão se desdobrando, mas a gente consegue, com tempo, mudar a forma que vemos tudo isso. A mudança vem de dentro para fora. Tentar deixar de lado a auto cobrança excessiva e dar tempo ao tempo, não procurar ser exato em tudo, não se condenar por pequenos (e necessários) erros... Começa por aí.


Ser exato só consigo mesmo. Com nossos próprios desejos, próprias ambições, próprias restrições e limitações, próprio tempo. Exato com o nosso espaço, e não com o do outro... Ou dos outros.

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