A sexta na FGV-SP tem muitas caras. Contarei, aqui, um relato de como foram muitas das minhas - e de muitos gvnianos. O bom é que, na verdade, para alguns não tão noiados com o curso, ela já começa com uma noite pouco dormida, de quem decidiu sair na quinta-feira para algumas das QIBs, QuintaNeja ou QuintaFunk, ou alguma outra festa muito bem achada de outra facul.
Amanhece, então, uma sexta-feira já com a boca seca, uma preguiça de levantar muito maior do que a regular, e uma motivação solene de quem não pode mais levar faltas naquela matéria. O DA ou o Sublepi, nossos espaços de convivência nos prédios de Administração e de Direito, percebem a mudança de humor que a sexta-feira traz consigo. Abraça os que estão dormindo pela manhã cansados, afundados nos seus puffs ou nos futons, e serve café para todos que tentam ganhar aquele gole de vida pela manhã. Enquanto isso, conversas soltas já combinam os planos para o resto do dia. Até porque, enquanto não se decide para onde iremos, o Shokitos – nosso bar – ou o Chico (para os advochatos), são sempre locais de espera dessa decisão, claro, com uma Brahma e um baco, pra quem gosta, ou um paiero.
Durante aquela aula da manhã, em que ainda estamos apenas existindo, contamos uma mentira para o nosso eu interior:
– Vou pegar só um café e já volto.
E essa grande pausa, que tira quase 30 minutos da sua aula, é também o que faz você conseguir chegar até o final, agora mais desperto e com fome, pronto para encontrar os amigos no Shokitos. Mas antes, será que vamos almoçar por lá mesmo, no Dellize, Vietnamita, marmita ou Getulinho? Infelizmente, para os que têm pouca sorte, a aula da tarde na sexta-feira existe, o que diminui consideravelmente o quórum do bar e, às vezes, algum diretor de entidade, caso não haja aula, tem a brilhante ideia de marcar uma reunião naquele horário (não seja essa pessoa).
Ao longo da tarde, o Shokitos vai ganhando ainda mais vida. Chegam pessoas do Direito que já terminaram seu almoço e subiram a rua, descem da aula os alunos de AE e AP, e, uma vez a cada muitos meses, se vê um aluno de Econo que não é o Bigode no bar.
Os litrões já vão se empilhando ao lado das mesas, os bacos, sendo bolados, e os paias sendo acesos.
– Sai debaixo do toldo, aí não pode.
As levantadas para o banheiro vão diminuindo seus intervalos e as risadas aumentando seu volume. Ao lado, a Avenida 9 de Julho, com buzinas, trânsito e, vira e mexe, um carro de polícia com muito barulho:
– Olha os coxinha.
O dia segue, e dos muitos possíveis destinos estão a Vila Madalena, o Largo da Batata, o Gaúcho, ou o Imburanas - todos bares em que você fica no meio da rua ou da calçada bebendo, música de muitos lados e que tem alguma barraquinha de procedência duvidosa pra matar sua fome.
Uma vez tomada a decisão, cabe agora voltar para a F** semi-alcoolizado, fingindo sobriedade para o segurança, buscar a mochila e se dirigir para a casa de um amigo que mora mais perto, ou, às vezes, para a sua casa, pra tomar um banhozinho e seguir o caminho escolhido. Muitas vezes, o destino escolhido é o bar onde um grupo de samba de alunos pretende tocar, ainda mais se for aniversário de alguém, aí tenha certeza de que encontrará metade da faculdade que você sequer esperava.
Já no rolê, cantando alto, ao som de “zaaam zaaam zam zam zam zam, pascarigudum, pascarigudum, pascarigudum”, bebemos mais um litrão, uma pinga com mel e limão, talvez até um corote de pêssego.
– Vamo bolar um? (“Baco”, claro)
E vão aparecendo os amigos que já estão no estágio, claramente reconhecidos pela roupa mais social, que já vão soltando os botões das camisas, dobrando as mangas, e as conversas vão ficando mais altas:
– Não, e detalhe …
– Até aí tudo bem, …
E a madrugada vai passando, olhares são trocados - por sorte a pessoa de que você estava afim na GV veio:
– Opa, salva um isqueiro?
Os mais cansados vão indo embora, os mais animados começam a ter suas grandes ideias:
– Vamo emendar um rolê?
O metrô em breve abrirá para os que o esperam ir embora, os ubers já buscam pessoas e estão de um lado para o outro da rua.
– Amigo(a/ue), cheguei em casa, tô bem.
Sextamos.
Revisão: Cedric Antunes e Letícia Fagundes
Este texto foi produzido, originalmente, para uma publicação em parceria com a revista ágora em 2020. Hoje, após modificações feitas pelo próprio autor, ele é publicado na Gazeta Vargas.
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