Nossa redatora Victória Rieser traz uma análise de uma agressiva fala da atual ministra Damares Alves. Entenda o que está além da manobra social que alveja todos os insipientes.
Damares Alves é pastora evangélica, e também é a nova ministra do governo
Bolsonaro, titular do conglomerado de ministérios; da Família, da Mulher e dos
Direitos Humanos. Provavelmente, o leitor que aqui se estende, mesmo que
politicamente desinformado, já ouviu falar em Damares. Nos últimos tempos, algumas
de suas falas tiveram grande repercussão na mídia, sendo a mais polêmica: “menino
veste azul e menina veste rosa”. Essa foi uma, dentre várias outras pérolas como; “a
mulher nasceu para ser mãe”, “ninguém nasce gay” ou ainda “a gravidez é um
problema que dura só nove meses”. Frases intrigantes e acontecimentos que tiveram
visibilidade internacional como a palestra em que pastora afirma que um grupo de
especialistas holandeses diz ser necessário que os pais masturbem seus filhos a partir
dos sete meses de idade, foram motivos de revolta e discussão entre a população.
Nesse texto, me apego especificamente ao que foi exibido em uma reportagem
no Fantástico no último dia 13. “Sabe por que elas [as feministas] não gostam de
homens? Porque são feias e nós somos lindas”, disse, provocando histeria na plateia.
Comentário tendencioso e equivocado, para não dizer pior. Essa frase foi dita em uma
Assembleia de Deus em 2015 e faz parte do que eu chamo de manobra social; saiba o
que seu público quer ouvir e entregue isso a ele. Afinal, se seu auditório acredita que o
feminismo é sobre ser feia e não gostar de homens, por que não dar isso a ele?
Essa deixa da ministra, me obriga a voltar à tópicos básicos esclarecedores do
movimento feminista como um todo. O feminismo é um movimento que luta contra
todas as formas de opressão exercida sobre as mulheres e pela igualdade entre os
gêneros, portanto, não é o oposto ao machismo. É um movimento plural e diverso, e
acredite, não tem nada haver com excesso ou falta de beleza!
Entretanto, a peculiaridade de Damares vai além do que se possa esperar, ao
pesquisar sua história descubro um grande trauma. Aos seis anos, a garota foi vítima
de abuso sexual – estupros sucessivos que perduraram dois anos, dentro da própria
casa. Esse crime levou à esterilidade da mulher. A comoção mudou sua trajetória, e o
fato é que não dá para entender Damares sem entender o trauma que a fez ser quem
é. A partir disso, passo a compreender sua obsessão pela mistura de dois temas:
sexualidade e infância. Quando seu trauma é incluído no contexto de suas falas, elas
deixam de parecer apenas loucura e requerem atenção. O Brasil falhou em reconhecer
nela uma vitima de abuso, o país não tratou o trauma de Damares, e agora, o trauma,
é parte daquilo que nos governa.
– Damares, querida, não me obrigue a andar por debaixo de suas leis.
Compartilhamos da mesma opressão apesar de sermos tão diferentes enquanto
indivíduos. O feminismo é tanto para a senhora quanto é para mim.
Comments