top of page

Um texto sobre aquilo que acham que você é


Nossa redatora Laura Kirsztajn compartilha uma importante e pessoal mensagem à todos os calouros e gevenianos: a importância de entender quem você e todos aqueles ao seu redor realmente são. Não se deixe levar pelas primeiras impressões causadas pelos feeds das redes sociais.



Quando escrevo um texto, a primeira coisa que me vem à mente é: para quem escrevo? Este é o caso. A princípio, pensei que fosse direcioná-lo aos gevenianos em geral, mas agora tenho os calouros como meu principal alvo. Tudo vai fazer sentido depois de algumas linhas (ou não, não posso garantir). De qualquer modo, veteranos, isso também é sobre vocês.

Sou uma grande adepta das redes sociais, e isso significa que, via de regra, boa parte das pessoas que me conhecem o fazem especialmente através dos pequenos trechos que um Facebook ou Instagram podem proporcionar. Ok, isso não é um fato apenas meu, provavelmente reflete a nossa geração.

O problema que isso gera é que, querendo ou não, as pessoas nos interpretam com base nesses pequenos trechos, e a partir disso constroem aquilo que nós somos para elas. Em outras palavras, é como se um centro acadêmico entrasse na rede social dos alunos e mapeasse em um Excel perfis baseados naquilo que encontrasse.

É algo extremamente óbvio, mas a principal dica que lhe ofereço é: vamos repetir o óbvio antes que ele o deixe de ser. Alguns compartilhamentos, fotos, textos, hashtags, filtros, tudo isso é quilômetros e quilômetros de artificialidade distante daquilo que um indivíduo realmente é enquanto ser completo e complexo. Não é representativo de uma pessoa real, sequer de sua personalidade.

Lembro que um dia afirmei estar muito triste, e me responderam “seu Facebook parece bem animado”. Primeira regra das redes sociais: elas podem esboçar exatamente o oposto daquilo que aparentam. Segunda regra: olhe para um perfil como você olha as imagens que aparecem nos cardápios dos restaurantes; entenda que aquilo jamais vai representar todas as facetas existentes em alguém. A pessoa que compartilha memes também pode ler Dostoiévski e fazer parte de um grupo de estudos de literatura russa. A pessoa que publica algo no Facebook uma vez a cada três anos talvez leia tanto shitpost quanto quem os compartilha.

Isso tudo é para explicar que às vezes nós vamos ter medo de sermos lidos por essas lentes da artificialidade. E isso não só em redes sociais. Nós tememos ser um estereótipo, e por isso fugimos dele a todo custo, deixando de fazer o que queremos, nos limitando. Ainda, nós nos atraímos a ser um estereótipo, porque talvez essa seja a forma mais simples de se sentir parte de algo ou de um grupo, e desse modo nós não somos a nossa versão mais honesta e verdadeira.

Dia após dia tudo é cada vez mais simplificado e reduzido. Limitamos a nossa capacidade de interpretar e ver as coisas com clareza, porque buscamos o mais fácil de se enxergar. Os estudos comportamentais falam de algo chamado “viés cognitivo”, que é como um bug impregnado em nosso cérebro e que nos faz tomar atalhos que aparentam ser os mais corretos, mas que na verdade podem trair-nos tremendamente. Batemos o olho em uma pessoa e de cara pressupomos coisas pelas lentes do viés; só que estamos errados.

Ao entrar em uma faculdade, você é praticamente uma versão zerada de você para centenas de pessoas, e isso pode parecer uma grande responsabilidade: como construir uma boa imagem? E é aqui que esse texto talvez faça algum sentido: não pense em construir, em preparar algo para alguém. Não pense exteriormente, pense internamente. Em vez de tentar parecer algo, seja aquilo que você realmente deseja ser nessa nova experiência que é a vida universitária. Se, por exemplo, um rótulo sempre lhe perseguiu na escola, por que não ser o que você realmente quer? É esse tipo de oportunidade que lugares novos podem nos dar. Não olhe para os outros de forma artificial e repleta de vieses, e também não use tais vieses como uma barreira para que você seja feliz, completo e a melhor versão de você.

bottom of page